segunda-feira, 20 de outubro de 2008


Não tinha em mente acompanhar o meu amigo ao lar da avó, mas ele insistiu, é só um bocadinho, e não pude dizer que não. Ao entrar, sempre seguindo as pisadas do meu amigo, notei no ar um odor a guisado, era notória alguma falta de luz e arejamento, alguns idosos amontoavam-se numa salinha onde o televisor ora lhes abria a vista ora lhes aguçava o sono, alguns circulavam com o seu triciclo pelos corredores ou mesmo por aquela salinha estreita, o olhar no chão, evitando uma queda com consequências desagradáveis, mas todos me pareceram tristes, perguntando-me com o olhar tanta coisa que nem sei descrever. Não consegui continuar a visita, logo comuniquei ao amigo que o aguardaria no exterior, sempre apanhava um bocdinho de sol e fumava um cigarro. Ele condescendeu. Não volto a pisar um lar, ficou-me a sensação penosa de que aquelas doces e frágeis criaturas ali tinham sido armazenados, passando os dias sem qualquer expectativa, carregando uma pena adversa e severa, sem culpa formada, só a velhice lhes era imputável.

(lá está, se me sair o €milhões farei algo mais por eles)

4 comentários:

CPrice disse...

".. só a velhice lhes era imputável" .. a conclusão que falta ao meu texto de hoje Caro Flip .. engraçada sintonia que nos leva a partilhar preocupações.

e de facto, como diz e bem, o peso da pergunta de um olhar desesperadao é algo dificil de explicar.

Flip disse...

Cara once,
confesso que me sinto constrangido com esta situação...dói, "isto" dói.
E vejo com prazer que também não esquece este tema, ao menos lembramo-lo, numa espécie de solidariedade.
(deixo um sorriso com uma flor na mão)

Luísa A. disse...

A gente impressiona-se de os ver juntos, Flip, mas eu penso que estamos sempre melhor se crescemos e envelhecemos com os da nossa geração. Isso não pode significar pobreza e abandono, claro.

Flip disse...

Cara Luísa,
concordo, até porque vendo-os assim, aprendemos...
(vai um bombom com recheio de licor?) :)