segunda-feira, 10 de novembro de 2008


“Já ninguém escreve cartas. Eu, sou-lhe sincero, sinto saudades do tempo em que as pessoas se correspondiam, trocando cartas, cartas autênticas, em bom papel, ao qual era possível acrescentar uma gota de perfume, ou juntar flores secas, penas coloridas, uma madeixa de cabelo. Sofro uma nostalgia miúda desse tempo em que o carteiro nos trazia as cartas a casa, e da alegria, do susto também, com que as recebíamos, com que as abríamos, com que as líamos...”
(José Eduardo Agualusa – O Vendedor de Passados)

Hoje, escrever uma carta, é algo que realmente acontece com raridade, a geração mais idosa já não aderiu a esta inovação tecnológica (ao email), salvo honrosas excepções, evidentemente, e isso terá contribuído para um certo esvaziamento nas relações pessoais, mas, estou em crer, apenas relativamente a estas últimas, as demais são até capazes de exagerar na troca de emails. Contudo, o fulcro ou cerne da mensagem do autor, centra-se nas particularidades que envolviam a correspondência lá nos tempos idos, e lendo Agualusa, conclui-se quão doce era a troca de correspondência, um conjunto de actos de cariz pessoalíssimo, verdadeiras peças de arte da escrita renascentista, romântica, liberal, onde ali se encerravam segredos e confissões, novidades e juras, conspirações e traições, todo um manancial de emoções que o papel guardava.(poderá dizer-se que hoje também o email tem esse conteúdo, porém, sem a mesma carga, os anexos, por exemplo, não são perfumados, embora acredite que possa acontecer no futuro lol).
Caso para dizer, por força da minha formação, que no colégio interno onde militei, todos os domingos à tarde, era obrigatório escrever à familia, sendo facultativo endereçar uma missiva aos amigos.
Hoje, à distância de uns bons anos, reconheço que se tratava de actividade sadia, por várias razões.
Gostava, particularmente, das cartas que recebia dos pais com anexo monetário extraordinário. Eis uma grande diferença dos emails, quiçá a única, mas relevante.lol

2 comentários:

Luísa A. disse...

Era uma forma de comunicação muito diferente, Flip, longe de diária, na maior parte dos casos. Ainda me lembro de escrever longas cartas, de tocar numa grande variedade de assuntos, de mandar notícias de uma série de gente. A comunicação por via informática tem de ser curta porque cansa os olhos. Mas pode ser quase constante e, como agora se diz, «em tempo real». Enfim, nas cartas, escrevia-se; nos e-mails, fala-se. :-)

Flip disse...

luísa,
concordo...tinha outro sabor não acha? Mas confesso que gosto dos emails, são mais rápidos :-)