segunda-feira, 17 de novembro de 2008


"O Contrato nupcial

Porque eram precavidos, porque queriam que sua união desse certo, e principalmente porque eram advogados, decidiram fazer um contrato nupcial. Um instrumento particular, só entre os dois, separado das formalidades usuais de um casamento civil. Nele estariam explicitados os deveres e os compromissos de cada um até que a morte - ou o incumprimento de qualquer uma das cláusulas - os separasse.
Quando chegaram à parte do contrato que trataria da fidelidade, ele ponderou que a cláusula deveria ter uma certa flexibilidade. Deveria prever circunstâncias aleatórias, heterodoxas e atenuantes. Por outras palavras, oportunidades imperdíveis. E exemplificou:
- Digamos que eu fique preso num elevador com a Angelina Jolie. Depois de dez, quinze minutos, ela diz "Calor, né?", e desabotoa a blusa. Mais dez minutos e ela tira toda a roupa. Mais cinco minutos e ela diz "Não adiantou", e começa a desabotoar a minha camisa... O contrato deveria prever que, em casos assim, eu estaria automaticamente liberado dos seus termos restritivos.
Ela concordou, em tese, mas argumentou que a licença deveria ser específica, rechaçando a sugestão dele de que se referisse genericamente a "Angelina Jolie ou similar". Ficou decidido que ele estaria automaticamente livre da obrigação contratual de ser fiel a ela no caso de ficar preso num elevador com a Patrícia Pillar, a Luma de Oliveira ou uma das duas (ou as duas) moças do "Tchan", além da Angelina Jolie, se o socorro demorasse mais de vinte minutos. Isto estabelecido, ela disse:
- No meu caso...
- Como, no seu caso?
- No caso de eu ficar presa num elevador com alguém.
- Quem, por exemplo?
- Sei lá. O António Fagundes. O Brad...
- O Brad não!
Foi uma negociação longa e difícil, durante a qual ele vetou vários nomes, até ser obrigado a concordar com um, por absoluta falta de argumentos. Ela estaria livre de ser fiel a ele se um dia ficasse presa num elevador com o Chico Buarque. Mas só com o Chico Buarque. E só se o socorro demorasse mais de uma hora!"
Luis Fernando Veríssimo, in "Sexo na Cabeça", 2002

2 comentários:

fugidia disse...

Ah, com o Chico Buarque nem passando trinta segundos! Aqueles olhos azuis perdem qualquer senhora de respeito, ora!
:-)))

(ela não era muito boa negociadora...)
:-p

Flip disse...

fugi
vou imediatamente mudar os meus :-)