sábado, 31 de janeiro de 2009


Estoril - foto flipvinagre

Hj de manhã viu-se o sol, aleluia!

A importância de sabermos comunicar, usando a expressão certa, é um valor digno de relevo. Veja este filme, é uma curta metragem que o ano passado foi premiado no Festival de Cannes! É a "História de um Letreiro! Um apelo à sensibilidade com resultados satisfatórios, clique aqui.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009


"Não há nada mais difícil de levar a cabo, nem de êxito mais duvidoso, nem mais difícil de gerir, do que iniciar uma nova ordem das coisas. Porque o iniciador tem a inimizade de todos os que ganhariam com a preservação do velho sistema e apenas moderados defensores entre aqueles que ganhariam algo com o novo".

Nicolau Maquiavel

O que me seduz neste preciso momento é ser o próximo alvo do deus da sorte, isto é, o beneficiário de uma liberalidade de um anjo qualquer ou, sendo mais específico, ser o próximo contemplado da Santa Casa da Misericórdia. Isso sim, isso é que era acabar o mês de Janeiro em grande, algo que ficaria nos anais das minhas crónicas e narrativas, tomo I, volume único, com encadernação e lombadas de ouro fino. O mundo seria completamente diferente!

Natalie Portman is back

Ia no meu jogging diário quando, de repente, um veículo automóvel que vinha em grande velocidade abranda ao meu lado fazendo uma travagem de assinalável ruído. Olhei de soslaio mas não parei, continuei a andar, não conhecia aquele automóvel, por isso segui no meu trajecto. Entretanto, lá de dentro, o condutor, um cidadão cheio de brilhantina, gel ou algo do género, com um pouco de soberba, perguntou, altivo, se eu sabia onde era a rua xis. Parei então e perguntei-lhe, rua quê? Rua x voltou ele a dizer. Não faço idéia e continuei a andar. Ele arrancou de novo fazendo chiar os pneus, devia estar com pressa! Numa fracção de segundo, quase quase em simultâneo, lembrei-me onde ficava a tal rua e disse, primeira à esquerda, esquerda novamente, há um cruzamento, vira novamente à esquerda e é aí. Ele não ouviu, o chiar dos pneus não permitiu que ouvisse. Há pneus assim!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


A Verdadeira Religião

Nunca me esquecerei do dia em que, dizendo-lhe «Mas, senhor padre Manuel, a verdade, a verdade, acima de tudo», ele, a tremer, sussurou-me ao ouvido - e isso apesar de estarmos sozinhos no meio do campo: - «A verdade? A verdade, Lázaro, é porventura uma coisa terrível, uma coisa intolerável, uma coisa mortal; as pessoas simples não conseguiriam viver com ela.»«E porque é que ma deixa vislumbrar agora aqui, como confissão?», perguntei-lhe. E ele respondeu: «Porque se não atormentar-me-ia tanto, tanto, que eu acabaria por gritá-lo no meio da praça, e isso nunca, nunca, nunca. Eu estou cá para fazer viver as almas dos meus paroquianos, para os fazer felizes, para fazer com que se sonhem imortais e não para os matar.
O que aqui faz falta é que eles vivam sãmente, que vivam em unanimidade de sentido, e com a verdade, com a minha verdade, não viveriam. Que vivam. E é isto que a Igreja faz, fazer com que vivam. Religião verdadeira? Todas as religiões são verdadeiras enquanto fazem viver espiritualmente os povos que as professam, enquanto os consolam de terem tido de nascer para morrer, e para cada povo a religião mais verdadeira é a sua, a que ele fez. E a minha? A minha é consolar-me em consolar os outros, embora o consolo que eu lhes dê não seja o meu.»

Miguel de Unamuno - 'São Manuel Bom, Mártir'


gémeos: como são feitos

Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria - Monte Estoril - foto flipvinagre

O Museu inclui os espólios do etno-musicólogo Michel Giacometti e do compositor Fernando Lopes Graça, destacando-se a obra musical e literária deste compositor, a sua importante e extensa colecção de correspondência, a colecção dos programas de concertos, o dossier de imprensa e a sua biblioteca pessoal, e a documentação de investigação de campo do etnomusicólogo, com fichas de recolha de música e documentos de tradição oral, manuscritos, fotografias, gravações de música áudio e vídeo, a colecção de instrumentos musicais populares portugueses, e a sua biblioteca especializada - determina a vocação do museu, que tem por missão e objectivo a preservação, conservação, estudo, divulgação e valorização do Património Musical Português.
O Museu desenvolve um conjunto de acções no âmbito da investigação, conservação, documentação, comunicação e educação, apresentando um vasto programa cultural com exposições temporárias, ciclos de concertos, conferências, programas de acção educativa e promove, ainda, anualmente, o Prémio Lopes-Graça de Composição.
O próprio edifício vale a pena, garanto-vos.
há dias em que todo o cuidado é pouco


maravilhar-se

"em pequeno, eu costumava maravilhar-me com o facto de que as letras de um livro fechado não se misturassem e se perdessem no decorrer da noite".

Jorge Luis Borges

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


chuvada no Paredão - foto flipvinagre

Porque gosto imenso deste jovem autor, eis que o reproduzo:

"Caro leitor, não o conheço, mas quero contar-lhe uma história que me contaram.É uma coisa curta e muito simples, não demora nada. É a história de um homem chamado Gelsomino, que tinha oitenta e poucos anos e vivia numa casa nas montanhas. Um dia Gelsomino estava sentado na mesa da cozinha a tentar escrever um poema sobre os sinais dos céus. Já há muito que se interessava por nuvens e outros fenómenos celestes e tinha uma grande colecção de apontamentos sobre o assunto. O poema que resultaria desse trabalho seria certamente longo, denso e sábio, como o seu autor. Talvez um grande volume de capa preta, talvez até mais do que um. Gelsomino ainda não tinha começado propriamente a escrever, queria que as palavras lhe saissem bem ponderadas, com o peso natural das coisas naturais e definitivas, mas os termos " formas pensantes", " negrumes que brilham" e " simples esplendor" espreitavam-lhe já no fundo da cabeça. No momento solene em que se preparava para escrever o primeiro verso na folha, Gelsomino ouviu um ruído e levantou-se. Abriu a porta lentamente. Lá fora um cão preto com um pequeno pássaro na boca olhava-o sem surpresa. Um cão preto, normal, que ele nunca tinha visto por aqueles lados. O homem não disse nada. O cão baixou o focinho e pousou o pássaro morto no degrau da entrada. Depois deu meia volta e foi-se embora pelo caminho de terra sem se virar para trás. Gelsomino ficou parado a olhá-lo até ele desaparecer. Agora sabia que já não podia escrever belas frases sobre nuvens e coisas no céu. Fechou a porta. De pé na sala vazia, pensava como poderia organizar o seu conto sobre o homem e o cão. "

Jacinto Lucas Pires ( Texto constante do livro: Cartas a Deus "


"Tenho mais medo de três jornais do que de cem baionetas"

Bonaparte

O caso do chá branco
Sentei-me e pedi à menina um chá, branco. Ela estranhou e perguntou-me: branco? Claro, branco, respondi eu. Não sei se temos, vou já perguntar, e ausentou-se para o efeito. Puxei do jornal diário, um daqueles gratuitos e logo na primeira página ela interrompeu-me, disse-me, o senhor desculpe mas só temos chá de camomila ou normal, o amarelo. E verde não tem? Verde(?), perguntou ela enquanto esboçava um sorriso numa cara bonita, rosada. Eu sorri do sorriso dela e deixei-a em paz, decididamente hoje fiquei (s)em branco.
É que o chá branco tem a mais baixa taxa de cafeína (5 a 15 miligramas por chávena) e o mais elevado nível de propriedades anti-oxidantes. Chaladices, que hei-de fazer, às vezes dá-me!!! Mas ela prometeu que amanhã e depois e depois já terá e que vai saber melhor as propriedades do chá branco! Não perdi tudo, afinal!

"Stand-by me", uma homenagem aos cantores de rua, que tanto nos maravilham por esse mundo fora, vale a pena ver e ouvir, clicke aqui.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


Madrigal tão engraçadinho

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive o porquinho da índia que me deram quando eu tinha seis anos.

Manuel Bandeira

Largo dos Passarinhos - Monte Estoril - foto flipvinagre

Lá está, agora que se apoderou de mim uma inspiração enorme para fazer uns rabiscos, fazer eventualmente a peça ou a obra de arte de uma vida, algo carregado de singularidade, intemporalidade, uma obra de arte mesmo a sério, é que não sei do lápis, e agora? Pois, ponho-me a mim próprio a questão, agora rabisco com aquela minha linda caneta de tinta permanente? Uso esferográfica? Guaches? Óleo?Que situação! O melhor é mesmo levantar um inquérito, exactamente, vou já lavrar despacho: atendendo a que, hoje, por motivos desconhecidos e fora de propósito, desapareceu o lápis mágico, proceda-se a inquérito, urgente, com vista a apurar responsabilidades.- Uma pena, talvez Picasso se viesse a orgulhar de mim enquanto cidadão da Ibéria. Assim, chapéu!!! Perco eu e perde o mundo, uma lástima!!! Desculpem. São coisas que acontecem. Mas poderão dizer, ora, nunca vi nenhum desenho dele aqui, e eu respondo, pois, seria o primeiro, quem me diz a mim que este primeiro não seria uma masterpiece? Há dias... não é? E além disso estava com um inspiração daquelas!!! Não sei se algum dia ultrapassarei isto...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


exemplo de um exército dominado pela força...da natureza

“Porque me conheceste tão velho? Respondi-lhe a verdade: A idade não é a que temos mas a que sentimos”.

Gabriel García Marquez – Memória das minhas putas tristes

Às Segundas acordo doucement. Eu explico: um petiz do 2º andar desce as escadas saltitando. E é então que desperto ao ouvir a mãe, uma francesa muito simpática, gritar-lhe lá de cima "Cédric, doucement”.

domingo, 25 de janeiro de 2009


Se um homem escreve bem só quando está bêbado, dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso respondo: o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto.

Bernardo Soares.Fernando Pessoa - O Livro do Desassossego

Poeminha de Louvor ao Strip-tease Secular

Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Millôr Fernandes

Hoje, diz a imprensa, os chineses entram no ano do boi, do búfalo, sei lá.
Confesso que não simpatizo muito com chineses, desde que invadiram o Tibete cortei relações com esta raça. Mas hoje dei comigo a pensar nestas tretas todas dos anos disto e daquilo, nas crenças que se arrastam há não sei quantos milénios, carregadas de simbologia e superstições e que alimentam quer os vendedores destes artifícios quer os crentes que neles depositam confiança e procuram respostas para os seus anseios e cura dos seus males. Mas mais sinistro ainda são os que procuram o sentido e a transcendência nas pedras, nos nomes, nos búzios, na forma de dormir, na maneira de sentar, nos sonhos, eu sei lá, o rol é vasto! Quanta futilidade em tudo isto, e como parece ir frutificando ainda um enorme sentido de oportunidade dos vendedores de banha da cobra que se valem da ignorância, superstição e carência por parte das almas frágeis.
Há que respeitar as crenças de cada um, claro, mas há que avisar também das suas incongruências.

Hoje, no "Sol":
"Marinha tem mais almirantes que navios
A Marinha tem 52 almirantes no activo ou na reserva em efectividade. O número supera bastante o total de navios em actividade, que são 40."
Há dias eram os generais, temos muitos também (1 para cada 254 soldados).
Conclusão: um corpo desajustado para as exigências do país. Um carreirismo fossilizado que culmina em resultados ridículos. Mas o que mais custa, é o “Zé” a suportar tudo isto...
Triste fado...

sábado, 24 de janeiro de 2009


zé hey zé ó zé psst hey ó zé zezinho u u hey zé zezinho hey...há aí lugar pra mim? zéééé...

"Grace Marufu Mugabe. A segunda mulher do Presidente do Zimbabwe já não tinha boa imprensa: milhões gastos em luxos num país esfomeado, usurpação de fazendas de brancos espoliados, inclusão na lista das sanções da UE. Agora foi acusada, em Hong Kong, de agredir um jornalista britânico
Chamam-lhe a 'Primeira gastadora' e culpam-na por ter 'estragado' o bom do Mugabe.(...) Acusada de, enquanto os súbditos do marido morrem de fome e cólera e a inflacção galopa para valores astronómicos, gastar milhões nas capitais europeias e asiáticas em incursões nas lojas das melhores marcas, hotéis de trezentas estrelas e aviões fretados, de se apropriar de fazendas da minoria branca e de construir mansões para ela e para o marido - que oficialmente aufere um ordenado de pouco mais de 50 mil euros anuais -, já foi incluída na lista de dignitários do Zimbabwe impedidos de viajar para a Europa (no âmbito das sanções da UE inflingidas ao país) e já viu as contas britânicas do casal congeladas com o objectivo confesso de prejudicar o seu instinto de gastadora nata - que justifica dizendo, num remake da célebre frase atribuída a Maria Antonieta: "Os meus pés são muito estreitos, só posso calçar Ferragamo."

não há pachorra...it seems she's mad with this, you can see her face in the picture, gee woman, you're so damn dreadful!!!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


No amor podemos substituir uma pessoa por outra, mas não na amizade, porque cada amigo tem o seu lugar e não podemos substituí - lo. Se perdes um amigo, o seu vazio nunca será substituído por outro, fica para sempre. Por isso, de certo modo, convive sempre contigo. A amizade é uma paixão, e eu sinto para com ela uma grande disponibilidade.

António Lobo Antunes in Maria Luísa Blanco, Conversaciones con António Lobo Antunes, 2001

Pode ler-se hoje no DN ou no IOL Diario: «Corrida a vistos para Angola faz vender senhas a 500 euros». Tráfico de serviços devido a enorme afluência.»

Ao ponto a que chega a degradação do comportamento humano, é lamentável constatar o clima desorganizado e caótico que se instala nos serviços de um Consulado, é que parece nem se importarem com a própria imagem que dão dos serviços (saberão eles os princípios inerentes à prestação de um serviço público?!!!)e do país, mais se assemelha àquela velha política do salve-se quem puder, um desencanto (mais um)e um odor imenso a corrupção (exportada). Haja decoro, organizem-se! Sujeitar as pessoas que demandam aquele país para lá trabalharem e contribuirem para um futuro melhor a condições de atendimento incapazes é, manifestamente, a consagração inequívoca do desrespeito e desdém intolerante de funcionários e burocratas incompetentes, ignorantes e sem noção alguma de civismo.
Dizia Erasmo de Roterdão: “A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.” Aplique-se o dito de Erasmo à santidade e ao seu oposto e temos a realidade.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


"A única coisa que lamento do meu passado é a sua duração. Se eu tivesse de viver tudo de novo, cometeria os mesmos erros, só que mais cedo".

Tallulah Bankhead
Depois de uma festa, o cansaço é bom; depois das arrumações, com início às sete e meia da matina e descanso só lá pelas 5 da tarde, o cansaço é mau. Assim, temos o cansaço bom e o cansaço mau. Exactamente como o colesterol.


O papel da China em Angola.
Tire as suas conclusões.
Um video para ver.
Clicke AQUI.

É sensato ser polido; por conseguinte, é idiotice ser rude. Criar inimigos com a falta desnecessária e propositada de civilidade é insensatez tão grande como pegar fogo à própria casa. Porque a polidez é uma ficha de jogo - uma moeda reconhecidamente falsa, e com a qual é tolice agir com avareza.
O homem de bom senso será generoso ao usá-la...
A cera, substância naturalmente dura e quebradiça, pode tornar-se macia aplicando-se um pouco de calor, adquirindo a forma que mais agradar.
Da mesma maneira, sendo polido e gentil, pode tornar as pessoas dóceis e servis, mesmo que tendam a ser rabugentas e maledicentes. Portanto, a polidez é para a natureza humana o que calor é para a cera.

Arthur Schopenhauer ( 1788-1860)

Ensinamentos já tão velhinhos mas ainda de grande actualidade...

A woman went to her doctor. The doctor, after an examination, sighed and said, 'I've some bad news. You have cancer, and you'd best put your affairs in order.'
The woman was shocked, but managed to compose herself and walk into the waiting room where her daughter had been waiting.
'Well daughter, we women celebrate when things are good, and we
celebrate when things don't go so well. In this case, things aren't
well. I have cancer. Let's head to the club and have a martini.'
After 3 or 4 martinis, the two were feeling a little less somber. There were some laughs and more martinis. They were eventually approached by some of the woman's old friends, who were curious as to what the two were celebrating.
The woman told her friends they were drinking to her impending end.
'I've been diagnosed with AIDS.'
The friends were aghast and gave the woman their condolences.
After the friends left, the woman's daughter leaned over and whispered,'Momma, I thought you said you were dying of cancer, and you just told your friends you were dying of AIDS.'
The woman said, 'I don't want any of them sleeping with your father
after I'm gone.'
Now, that's 'Putting Your Affairs In Order'

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009


Que importa, Diomedes, qual a minha linhagem?
A geração dos homens é igual à das folhas.
Se o vento arranca algumas e no chão as espalha,
ao vir a Primavera logo nascem mais outras.
E dos homens diremos que são como a folhagem.

Homero- Ilíada, Canto VI

Uma folha em branco pode transformar por completo uma vida. Imagine-se que Alguém pegava nela e rabiscava qualquer coisa, algo como “amanhã tem cuidado”. Entretanto, uma rabanada de vento traiçoeira levava-a sem autorização até às mãos de outro alguém (será o Alguém 2) com poderes de autoridade, que, sentindo-se ameaçado, olhando em redor, identifica a sua origem. Poderia ser o cabo dos trabalhos para o Alguém 1, sem qualquer culpa no cartório, nem foi negligente, nem a sua conduta pode considerar-se dolosa. A vida é isto, há imponderáveis, todo o cuidado é pouco. E agora imagine-se que a dita folha dizia, para si (convenhamos que o leitor pensaria ser para si, vá lá, não seja exigente) se puder, dia 23 de Janeiro, faça sol ou chuva, ceda sorrisos, e obtenha dos outros outro sorriso também, hein (?) que faria?

"...O homem que assim se aproxima, vago entre as cordas de chuva, é o meu avô. Vem cansado, o velho. Arrasta consigo setenta anos de vida difícil, de privações, de ignorância. E no entanto é um homem sábio, calado, que só abre a boca para dizer o indispensável. Fala tão pouco que todos nos calamos para o ouvir quando no rosto se lhe acende algo como uma luz de aviso. Tem uma maneira estranha de olhar para longe, mesmo que esse longe seja apenas a parede que tem na frente. A sua cara parece ter sido talhada a enxó, fixa mas expressiva, e os olhos, pequenos e agudos, brilham de vez em quando como se alguma coisa em que estivesse a pensar tivesse sido definitivamente compreendida. É um homem como tantos outros nesta terra, neste mundo, talvez um Einstein esmagado sob uma montanha de impossíveis, um filósofo, um grande escritor analfabeto. Alguma coisa seria que não pôde ser nunca. Recordo aquelas noites mornas de Verão, quando dormíamos debaixo da figueira grande, ouço-o falar da vida que teve, da Estrada de Santiago que sobre as nossas cabeças resplandecia, do gado que criava, das histórias e lendas da sua infância distante. Adormecíamos tarde, bem enrolados nas mantas por causa do frio da madrugada. Mas a imagem que não me larga nesta hora de melancolia é a do velho que avança sob a chuva, obstinado, silencioso, como quem cumpre um destino que nada poderá modificar. A não ser a morte. Este velho, que quase toco com a mão, não sabe como irá morrer. Ainda não sabe que poucos dias antes do seu último dia terá o pressentimento que o fim chegou, e irá de árvore em árvore do seu quintal, abraçar os troncos, despedir-se deles, das sombras amigas, dos frutos que não voltará a comer. Porque terá chegado a grande sombra, enquanto a memória não o ressuscitar no caminho alagado ou sob o côncavo do céu e a eterna interrogação dos astros. (...) "
José Saramago - As Pequenas Memórias


aquele que se julga único detentor da verdade, é um presunçoso, e se essa verdade, afinal, não possuir significado concreto, então, é um perfeito pedaço de asno.

Robert Mugabe goes on a state visit to Israel. While he is on a tour of Jerusalem he suffers a heart attack and passes away. The undertaker tells the accompanying people, 'You can have him shipped home for US$500,000, or you can bury him here, in the Holy Land, for just US$100.' The Zimbabweans go into a corner and discuss for a minute. They come back to the undertaker and tell him they want Mugabe shipped home.

The undertaker is puzzled and asks, 'Why would you spend $500,000 to ship him home, when it would be wonderful to be buried here and you would spend only $100? With the money you save you could buy enough diesel for a year, buy enough medicines to wipe out cholera, buy enough generators to never have blackouts again.'

The Zimbabweans replied, 'Long ago a man died here, was buried here, and three days later he rose from the dead. We just can't take that chance.'

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


marina de Cascais-Jan 09-foto flipvinagre

Qual é a minha experiência de vida?
Nenhuma.
Qual é a lei que extrais da vida?
Nenhuma.
Só o espanto.

Raul Brandão
falhei um encontro já agendado há tempos com velhos amigos na Ericeira, é um dos nossos locais de referência, aquele peixe grelhado é um dos nossos factores de união. Um azar destes não tem explicação.


É por tudo ter de acabar que tudo é tão belo.

Charles Ramuz