quinta-feira, 28 de maio de 2009



Bato à porta de nada ensurdecido e bronco,
forrado a lama seca ou sarro destes anos
que mais que tudo me vestiram de tonto,
dos que limpam os carros com a baba que lhes cai
sobre a cinza do fato; bato à porta de nada
sem dizer ui nem ai mas apenas grunhindo
de olho embaciado sem o cristal da lágrima,
bato à porta com braços, pernas, boca e dentes,
mas sem saber no fundo, mas sem saber de caras
se deveras lhe bato quando lhe bato assim,
no nada dessa porta, ou ela bate em mim.

Pedro Tamen (Guião de Caronte, 1997)

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