domingo, 29 de novembro de 2009

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"


Vais perguntar outra vez porque existes ?
Para quê ?
Para ficares com os olhos do tamanho de ilhas tristes ?
Pois não sabes que já milhões como tu e como eu ,
pediram , em vão , às aves
que procurassem nas nuvens aquela Porta
de que nem a Morte tem as chaves .

E quem a abriu ?

Quem sabe que Porta é ?


José Gomes Ferreira
recebi por email e como gosto imenso de animais não posso deixar de mencionar aqui este episódio que muito nos ensina:

depois de perder os pais, este orangotango de três anos de idade estava tão deprimido que se recusava a comer e não respondia muito bem aos tratamentos e remédios. Os veterinários achavam que ele ia sucumbir. O velho cão foi encontrado perdido nos arredores do zoológico, e quando foi levado para dentro da sala de tratamento encontrou o orangotango, os dois tornaram-se amigos inseparáveis desde então.

O orangotango encontrou uma nova razão para viver e esforça-se para que o seu novo amigo o acompanhe nas suas actividades.
Eles vivem no norte da California e a natação é o desporto favorito de ambos, embora Roscoe (o orangotango) ainda tenha um pouco de medo da água e precise da ajuda do amigo para atravessar a nado.

Eles passam o tempo todo juntos e podemos observar como serão felizes.
Lições do mundo animal!

sábado, 28 de novembro de 2009

goze a vida / enjoy life

hoje não disponho de ponto final, estou, pois, impossibilitado de terminar seja o que for, pelo que, assim sendo, terei que usar de um velho artifício, digo velho nem sei porquê, talvez porque me soe a que possa ter já sido usado há bastante tempo, sim, deve ser isso, portanto, sim, claro, adivinharam, usarei as reticências, mas também poderia usar um ponto de interrogação, ou um ponto de exclamação, ou ponto nenhum, há dias assim ...


imagem: handkerchief de henri matisse

(...) Numa tarde fria, bela, chegaram a acumular-se três pessoas para tirarem dúvidas. Quando o homem disso se apercebeu, enternecido, olhou a criança. A criança, surpreendida com aquele olhar extenso, olhou o cartaz. Soletrou mais alto do que da primeira vez, para que todos na fila o ouvissem: ti-ram-se dú-vi-das...
O tirador de dúvidas afagou o menino. Disse-lhe um segredo: dúvida é quando não sabemos bem alguma coisa. O menino enxugou o ranho transparente do seu lábio, sorriu, procurou a orelha peluda do homem: dúvida é amanhã?
Mãos dadas, dúvida virou nome de esquina. (...)

Ondjaki in "E se amanhã o medo"

O sangue no cavalo

Éramos eu e um cavalo/E era um cavalo bravio
(...) Éramos eu e um cavalo/Indo de encontro ao vazio.

Dori Caymmi cantando Desafio


"É você, sem tirar nem pôr".

Nas primeiras vezes em que ouviu a frase, Carlos Henrique achou engraçado. A semelhança era fantástica, diziam todos.
"Cara de um, focinho do outro".
"Tem certeza que você não tem um irmão gémeo?"
"É você, sem tirar nem pôr".

Carlos Henrique só começou a preocupar-se com o sósia quando alguém perguntou:

- Não cumprimenta mais os amigos?
- Porquê?
- Ontem. Você passou por mim como se não me conhecesse.
- Não era eu!

Era o sósia. O sósia ainda poderia causar-lhe problemas.

- Estava bom, o sorvete?
- Que sorvete?
- Vi você comendo um, sorvete, ontem, no xópi.
- Ontem eu não estive nem perto do xópi.
- Era você, sem tirar nem pôr!

O problema não era ter um sósia. O problema era o que o sósia poderia aprontar. O problema era Maura, a ciumentíssima mulher do Carlos Henrique.
E se alguém contasse para a Maura que o vira, não comendo um sorvete no xópi mas abraçado a outra mulher?
Pensou em contar à Maura que andava alguém na cidade com a sua cara.
Que era ele sem tirar nem pôr. Mas não. Poderia parecer que estava inventando o sósia para ter uma explicação pronta em caso de flagrante. Uma espécie de habeas corpus preventivo. Melhor era não contar. Mas ficar alerta. Ficar extremamente alerta para o pior.
E o pior aconteceu. Um dia Carlos Henrique, mal chegou a casa, foi confrontado com uma revista aberta na reportagem em página dupla da festa de um milionário chamado Toninho. Na sua despedida de solteiro, Toninho reunira amigos e amigas na sua ilha, e numa das muitas fotos que ilustravam a reportagem aparecia o Carlos Henrique, de bermudão, entre duas mulheres de biquíni. Carlos Henrique tinha um braço em torno da cintura da loira à sua direita e com a outra mão levantava um brinde ao leitor. Maura só queria saber uma coisa:

- Quem é ela? Apontando para a loira.
- Maura...
- Não precisa dizer mais nada. Só quero saber quem é ela.
- Maura, esse não sou eu.
- Ora, faça-me o favor!
- Maura, veja onde é essa festa. Em Angra dos Reis. Eu nunca estive em Angra dos Reis. Não conheço nenhum Toninho. Não estive longe de você por um dia nestes últimos anos, ainda mais em Angra dos Reis. E veja o que diz na legenda da foto, Maura.

Na legenda dizia "Oscarzinho Leitão (38), muito bem acompanhado, brinda-nos com seu gin-tónico".
Maura concedeu: era um sósia. Tinha outro nome e outra idade. Além de tudo, Carlos Henrique não gostava de gin-tónico.
Mas que era ele sem tirar nem pôr, era.
A reportagem faz sucesso entre os amigos de Carlos Henrique e Maura e a própria Maura é quem mais ri. Mas de vez em quando Carlos Henrique a pega examinando a fotografia, e no outro dia ouviu ela murmurar:

- Sei não, sei não...
- Maura, pense bem. Eu não poderia estar em Angra dos Reis com um pseudónimo e ao seu lado ao mesmo tempo. Eu não tenho o dom da ubiquidade.
Mas Maura ainda não está totalmente convencida.
- Dos homens pode-se esperar de tudo - diz.

Luís Fernando Veríssimo in "Expresso" (Sem tirar nem pôr)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

olhares no Chiado, Lisboa - foto flipvinagre


"Ir ver o mar. Vê-lo de vez em quando e sempre com a mesma fascinação. Que é que vem dele para assim nos fascinar? A sua força imensa diante da nossa pequenez. O seu mistério visível e inquietante porque é o invisível da sua visibilidade. O irrisório da sua absurda convulsão e o aceno indistinto que vem de trás do horizonte e não sabemos o que é. O aroma a espaço, uma memória confusa de aventura, o sinal presente da sua infinitude ausente, a dilatação de nós a um poder imenso, um certo conluio com Deus."

Vergílio Ferreira - in "Pensar"

Por vezes existe nas pessoas ou nas coisas um charme invisível, uma graça natural que não pôde ser definida, a que somos obrigados a chamar o «não sei o quê». Parece-me que é um efeito que deriva principalmente da surpresa. Sensibiliza-nos o facto de uma pessoa nos agradar mais do que deveria inicialmente e somos agradavelmente surpreendidos porque superou os defeitos que os nossos olhos nos mostravam e que o coração já não acredita. Esta é a razão porque as mulheres feias possuem muitas vezes encantos que raramente as mulheres belas possuem, porque uma bela pessoa geralmente faz o contrário daquilo que esperávamos; começa a parecer-nos menos estimável. Depois de nos ter surpreendido positivamente, surpreende-nos negativamente; mas a boa impressão é antiga e a do mal, recente: assim, as pessoas belas raramente despertam grandes paixões, quase sempre restringidas às que possuem encantos, ou seja, dons que não esperaríamos de modo nenhum e que não tinhamos motivos para esperar.
Os encantos encontram-se muito mais no espírito do que no rosto, porque um belo rosto mostra-se logo e não esconde quase nada, mas o espírito apenas se mostra gradualmente, quando quer e do modo que quer; pode esconder-se para surgir de novo e proporcionar essa espécie de surpresa que constitui os encantos.

Baron de Montesquieu, in "Ensaio Sobre o Gosto"

quarta-feira, 25 de novembro de 2009


sentei-me ao piano e toquei meia dúzia de notas,
o meu gato saíu da sala, o meu vizinho ouvi-o bater na parede,
a chuva continua a cair,
tanta falta de incentivo desinspira-me ...

"(...) Meu Deus, a pouco e pouco vamo-nos tornando sótãos onde o passado amarelece, a pouco e pouco os sótãos invadem a casa que somos, principiamos a mover-nos entre sombras truncadas de gente, emoções, memórias. Lentamente tiram-nos tudo, o presente afunila-se, o futuro uma parede. E nós, apesar de adultos, tão crianças ainda, assustados, perdidos, juntando pedaços dispersos para nos reconstruirmos de novo, continuarmos. Na direcção de quê? Para onde? Quem nos espera ainda?
(...) Primeira pergunta: o que nos aconteceu? Segunda pergunta: o que será de nós? Não mandamos nada, os dias vêm e cavalgam-nos, arrastam-nos para onde lhes dá na gana, o nosso livre arbítrio é tão limitado, o que podemos escolher tão pouco.
(...) ... passei as poucas horas livres que me deram a olhar para o tecto e a pensar numa frase de Einstein: devemos fazer tudo o mais simplesmente possível mas não mais simplesmente do que isso. O raio da frase não me largou toda a semana, na certeza de que me havia de servir não entendia para quê, enquanto ela se transformava em mim, crescia, se ramificava, principiava a dar botões, se me dissolvia no sangue. Há-de chegar à mão, há-de sair, não sei de que maneira, numa página qualquer, ou então atravessar as páginas todas. Devemos fazer tudo o mais simplesmente possível mas não mais simplesmente do que isso: grande cabrão que acertou em cheio."

excerto da crónica de António Lobo Antunes na 'Visão'

terça-feira, 24 de novembro de 2009


a importância de ficar calado...

Robert Whiting, an elderly gentleman of 83, arrived in Paris by plane.
At French Customs, he took a few minutes to locate his passport
in his carry on.
'You have been to France before, monsieur?'
the customs officer asked sarcastically.
Mr Whiting admitted that he had been to France previously...
'Then you should know enough to have your passport ready.'
The American said, ''The last time I was here, I didn't have to show it.'
'Impossible. Americans always have to show your
passports on arrival in France !'
The American senior gave the Frenchman a long hard look... Then he
quietly explained.
''Well, when I came ashore at Omaha Beach on D-Day in 1944 to
help liberate this country, I couldn't find a single
Frenchman to show a passport to!!'







recebi estas imagens por email, não sei identificar estes meninos cuja atitude é merecedora de um prémio, aqui fica o registo do seu acto digno e nobre, de mim ganharam um enorme respeito e admiração - Faça o bem, não olhe a quem!"

(...) a maravilha que deve ser escrever um livro: a invenção dentro da memória; a memória dentro da invenção; e toda essa cavalgada de uma grande fuga, todo esse prodígio de umas poligâmicas núpcias, secretas e arrebatadas, com a feminina multidão das palavras: as que se entregam, as que se esquivam; as que é preciso perseguir, seduzir, ludibriar; as que por fim se deixam capturar, palpar, despir, penetrar e sorver, assim proporcionado, antes de se evaporarem, as horas supremas de um amor feliz. Não há matéria mais carnalmente incorpórea; nem outra mais disposta a por amor ser fecundada.
Como se pode interpretar de outro modo esse velho lugar-comum de ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro? Só se em todos os casos se tratar de grandes e inevitáveis actos de amor: com a Mulher, com a Terra, com a Língua. Mas de plantar árvores e ter filhos haverá sempre muita gente que se encarregue. De destruir árvores também; de estragar filhos igualmente. Em compensação, um livro, um livro que viva, multiplicado, durante alguns anos ou alguns séculos, e que depois vá morrendo, sem ninguém dar por isso, mas nunca de uma só vez, até ser enterrado na maior discrição ou até se ver de súbito renascido, inesperadamente ressuscitado, um livro com semelhante destino - luminoso por mais obscuro, obscuro por mais luminoso -, isto é que foi sempre o que me empolgou.

David Mourão Ferreira

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

em Cascais - foto flipvinagre

às vezes a inspiração resulta acidental
chega com asas simplesmente
uma rima banal
permanece banal, eternamente


Se a obra de arte proviesse da intenção de fazê-la, podia ser produto da vontade. Como não provém, só pode ser, essencialmente, produto do instinto; pois que instinto e vontade são as únicas duas qualidades que operam. A obra de arte é, portanto, uma produção do instinto. O drama, sendo primariamente uma obra de arte, é-o também.

Fernando Pessoa in "Prosa", 1916

Será? Não creio, entendo que Pessoa não quis generalizar, a vontade é inerente à obra e ao resultado que o 'artista' busca, não será?

sábado, 21 de novembro de 2009

para contrariar o cinzentão de outono, praia de S.P.Estoril - foto flipvinagre

"a sobrevivência da nossa herança religiosa é condição para a sobrevivência da civilização".

A religião não deve entrar no lugar que pertence à ciência e à técnica. Ela surge de outra dimensão, que "nos capacita para conviver com o fracasso, o sofrimento e a morte". Ela é o caminho que nos leva a "aceitar a derrota inexorável". Para a Humanidade, não há a última vitória, já que, "no fim, morremos".

Sem tradições religiosas, que razão haveria para respeitar os direitos humanos? Vendo as coisas cientificamente, o que é a dignidade humana? Superstição? Do ponto de vista empírico, os homens são desiguais. Como justificar a igualdade? Os direitos humanos são uma ideia a-científica."

As normas morais não podem assentar apenas no medo, segundo o modelo de Hobbes. Até certo ponto, "estamos programados instintivamente para a conservação da espécie". Mas não se pode esquecer que "a história do século passado mostrou inequivocamente que podemos, sem grandes inibições, aniquilar membros da nossa própria espécie. Por isso, precisamos de instrumentos de solidariedade humana, que não assentam nos nossos instintos, interesses próprios ou violência". "A falta da dimensão da Transcendência enfraquece o acordo social."


excerto da coluna no DN de Anselmo Borges - "A sobrevivência da civilização" (a qual contém entrevista do Die Welt ao filósofo polaco Leszek Kolakowski.

impotente para travar a sua queda no abismo,
ele tenta ainda dois passos atrás
mas a inevitabilidade ganha foros de autenticidade e aproxima-se arrastando-o para o fim do seu tempo, um último ensaio para o adeus é a sua derradeira expressão, a gravidade do tempo finito suspende-lhe os dias e a metamorfose termina sem mais regalias

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

de repente sinto uma vontade enorme de dizer qualquer coisa mas não me ocorre sobre o quê, ponho-me aqui a recapitular sobre o que seria e nada, nem uma pequena sombra do que abordar, refaço o meu dia desde manhã cedo até ao momento presente a ver se foi algo que captei no quotidiano e nada de novo, o que seria(?!) começo a rodopiar em seco, dou voltas e mais voltas ao miolo e não surge nada que indique sobre o que queria botar escrita ou versar sobre, ensaio um pequeno texto mas à quinta palavra desisto, fico num impasse, volto a reformular tudo de novo, tudo aponta para que tenha caído num círculo vicioso, um beco sem saída, nem uma janela se abre sobre o que queria abordar hoje, nada, enfim, temo concluir a zeros, sem mais nem menos, aliás, sem menos, melhor dizendo, sem nada, absolutamente nada, e não, não é logro algum, tão pouco manobra dilatória ou algo do género, pura e simplesmente uma tentativa frustrada para escrever algo, uma branca, mas uma branca que ganha autenticidade, que vê a luz do dia, acontece! Mas uma branca à luz do dia permanece branca? E se o dia for cinzento? Uma cinzenta?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

olá, hello, hi, salut, Oy - foto flipvinagre
Liniers
subo ao sótão
e na velha estante
descubro a minha falta de coragem naquela gaveta
onde guardei postais esquecidos

gostava de te escrever um poema,
dedicar-te uma canção,
mas só sei nadar,
anda,
mergulha agora,
ensinar-te-ei como a mariposa ultrapassa as ondas

quarta-feira, 18 de novembro de 2009


atravessando a ponte 25 de Abril com o olhar nas nuvens - foto flipvinagre

tento o equilíbrio, temerosamente, dou dois passos e caio ao terceiro. Tenho jeito, caio bem, caio em pé!
porque escrevo pergunto-me, nem sei o que responder, posso dizer tantas razões como razão alguma que seja válida à luz ou na perspectiva de quem lê, apenas porque me apetece é o que mais facilmente me ocorre, para passar o tempo, para colocar no papel o produto do que penso, ou simples baboseiras, dizem que é importante escrever, e eu acredito que sim mas, no meu caso, estamos a abordar o meu caso, diz-me cá de dentro a razão, é uma forma de desbravar caminhos da alma, estão a ver, isto é pano que dá para mangas, pode quase fazer-se um tratado sobre esta matéria, ou nem por isso, escrevo porque gosto, porque adoro ouvir o teclado, sei lá, porque às vezes o tempo lá fora está bera e então vou por aqui discorrendo o que me dá na gana, talvez seja, conforme o dia, claro, há dias que nem pensar, qual escrever qual quê, isso é que era bom, e acaba-se já o assunto, eis a minha veia de mal disposto a vir à superfície, já quer estragar tudo, o tempo é o culpado, dias de chuva, trânsito infernal, não se pode pedir muito, contingências da vida, é isso mesmo, afinal, por vezes escrevo para desabafar, simplesmente, e faz bem, aliás, faço bem, ou melhor, faz-me bem, isso, é isto. Há quem escreva muito mais do que eu, algumas pessoas chegam a escrever livros inteiros, têm tempo, ou têm algo para dizer, ou pensam demais e querem deitar tudo cá para fora, e fazem muito bem, poderão até ter começado sem esse propósito e quando foram a ver, pimba, livro acabado, estão a ver? Eu acho que já estou a escrever demais, ainda bem que este teclado está a emperrar, há te cla s que j á c ome ça m a f alh ar, a i q ue , chat ice!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

hoje o Sol voltou a brilhar - Pedra do Sal - SP Estoril - foto flipvinagre
pequeno almoço com humor - para começar bem o dia

“Entro, sorrio um sorriso vago para ninguém, não paro, vou até à estante do fundo, finjo procurar um livro qualquer numa prateleira alta. O velho truque, sim. Olhem bem, amigos, a ver se aprendem alguma coisa. Vamos começar pelo princípio. O primeiro gesto, o truque inicial, movimento nº1. Ainda se lembram? Isso, muito bem. Nº1, guardar o objecto. Livros magros ou, pelo menos, é só uma pequenina adenda, não muito gordos. Não se rouba Bíblias, por exemplo. Mas vá, vamos lá. Fingir que estamos noutra, muito concentrados à procura de altaliteratura, tirar um livro dos mais sérios, folhear com ar de conhecedor, sobrolho franzido, olhos parados. Não aconselho, no entanto, a ler efectivamente as palavras impressas. Não, isso não. Pode ser distractivo, e a mínima interferência num momento crítico destes, já se sabe, pode ser a morte do artista. Não, ler mesmo não. Tudo faz-de-conta, tudo bom engano. Lembrem-se, meus caros, é uma arte, coisa séria. Mas, portanto, nunca ler as próprias palavras, olhar antes para o meio do livro, um imaginário ponto central no risco negro que, por assim dizer, talha o livro em dois, um olhar microscópico e desfocado que não permita desconcentrações de espécie alguma. Nesta fase, pode ser útil contar até cinco para dentro. Completo silêncio, como é óbvio. É a regra de ouro para quem quer dominar este jogo de desviar livros.(...)”

Jacinto Lucas Pires in (Em Linguagem de Frases), Colectânea da FNAC (O Prazer da Leitura)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

outono no paredão - foto flipvinagre
a música baila no ar num ambiente que propicia o nosso envolvimento,
mas a tua ausência dirige os meus olhos rasteiros e indolentes para o chão,
uma bailarina que rodopia acaba por me estender a mão,
o teu passado começou então...
e se eu te puder legar um sorriso, pois aceita-o de bom grado, usa-o nos momentos tristes e pardos, lamacentos e obscuros, não te deixo em legado a gargalhada pois é pessoal e intransmissível


Giving Up Wine???

I was walking down the street when I was accosted by a particularly dirty and shabby-looking homeless woman who asked me for a couple of dollars for dinner.

I took out my wallet, got out ten dollars and asked, 'If I give you this money, will you buy wine with it instead of dinner?'

'No, I had to stop drinking years ago', the homeless woman told me.
'Will you use it to go shopping instead of buying food?' I asked.
'No, I don't waste time shopping,' the homeless woman said. 'I need to spend all my time trying to stay alive.'
'Will you spend this on a beauty salon instead of food?' I asked.

'Are you NUTS!' replied the homeless woman. I haven't had my hair done in 20 years!'
'Well, I said, 'I'm not going to give you the money. Instead, I'm going to take you out for dinner with my husband and me tonight.'

The homeless Woman was shocked. 'Won't your husband be furious with you for doing that? I know I'm dirty, and I probably smell pretty disgusting.'
I said, 'That's okay. It's important for him to see what a woman looks like after she has given up shopping, hair appointments, and wine.'