domingo, 31 de outubro de 2010

imbondeiro - tela de Modesto

"those who find beautiful meanings in beautiful things are the cultivated.
for these there is hope.
they are the elect to whom beautiful things mean only beauty."

oscar wilde, the picture of dorian gray

sábado, 30 de outubro de 2010

céu rosado no regresso a África -foto do telemóvel - flipvinagre


Exultação

Não há maior maravilha do que percorrer
as alturas estreladas, abandonar as lúgubres regiões
.......................................................da terra,
cavalgar as nuvens, subir aos ombros de Atlas,
e ver muito distantes, lá em baixo, as pequenas

......................................................figuras
que vagueiam e erram, desprovidas de razão,
inquietas, no temor da morte, e aconselhá-las,
e fazer do destino um livro aberto.

Ovídio, in Metamorfoses.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

“Se nada fizermos para corrigir o curso das coisas, dentro de alguns anos se dirá que a sociedade portuguesa viveu, entre o final do século XX e começo do século XXI, um luminoso mas breve interregno democrático. Durou menos de 40 anos, entre 1974 e 2010. Nos 48 anos que precederam a revolução de 25 de abril de 1974, viveu sob uma ditadura civil nacionalista, personalizada na figura de Oliveira Salazar. A partir de 2010, entrou num outro período de ditadura civil, desta vez internacionalista e despersonalizada, conduzida por uma entidade abstrata chamada ‘mercados’."

Leia mais da crónica de Boaventura de Sousa Santos na
Visão. Vale a pena.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

na livraria "Bertrand" no Cascais Shopping

domingo, 24 de outubro de 2010

flying again...

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner Andersen

sábado, 23 de outubro de 2010

Pés gelados


- Doutor, eu entro no chuveiro e lá está a calcinha da minha mulher pendurada numa torneira.

- Sim.

- O armário do banheiro está sempre cheio das coisas dela. Potes de creme, sprays, loções, bisnagas... Não tem lugar para as minhas coisas. Já tentei jogar tudo fora, mas não adiantou. No dia seguinte, o armário estava cheio das coisas dela de novo.

- Sim.

- A coberta da cama está sempre presa no lado dela. Não consigo puxar para o meu lado.

- Sim.

- Não posso usar o telefone. Está sempre ocupado.

- Sim.

- E o pior, doutor: os pés gelados dela encostando na minha perna, na cama, quando eu menos espero.

- Sim, sim. Só não entendo porque o senhor está me contando tudo isso. Parece mais assunto para um conselheiro matrimonial, não um psicólogo.

- É que a minha mulher morreu há mais de um ano, doutor!

e ainda outra:

Perdedor, vencedor

O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram para o vestiário, lado a lado. No vestiário, enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:

- Também, com essa raquete...

Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor também sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os ténis. O perdedor comentou, ainda sorrindo:

- Também, com esses ténis...

O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou:

- Também, com esse físico...

O vencedor perdeu a paciência.

- Olha aqui - disse. - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete igual à minha e ténis melhores do que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é o equipamento que ganha o jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor. Prefere atribuir a sua derrota à minha raquete, aos meus ténis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo o que é meu e mudasse de atitude, você também poderia ser um vencedor, apesar dessa barriga.

O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:

- Também, com essa linha de raciocínio..."

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO in "expresso"

Porque às vezes é bom parar e pensar um pouco no que andamos a fazer, veja, clike aqui.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"sem título"
tela do angolano Álvaro Macieira

Chuva

Tenha piedade
De nós
Caía com carinho
Ouça minha voz

Não destrua
O meu bairro de lata
Regue os nossos campos
Mas não mate
A nossa pura verdura

Tenha piedade de nós
Caía com carinho
Ouça a minha voz

Não deixe
A minha rua alagada
Você diz que nos ama
Mas no fundo
Não ama nada

Traga
Mais saúde
Mais Kumbú
Mais amor
Isto é o que queremos.

Sandro Feijó*
(poeta angolano, Abril 2010)


Por aqui começaram as chuvas, quando chove a situação complica-se, mil e uma razões vêm à tona de água para justificar outras mil e tantas coisas...Daí a minha preferência pelo Sol, fica tudo muito mais luminoso.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

POEMA PARA A EXORCISTA

A minha vida aparece sem condão e
monótona
aos que me vêem
no trabalho árduo da oficina
em manhãs apuradas.
A verdade é muito distinta.
Cada noite eu saio e discuto
contra um espírito malévolo
que, se valendo de
máscaras - cão, grilo,
nuvem, chuva, vagabundo,
ladrão - trata de
se infiltrar na cidade
para estragar a vida humana
semeando
a discórdia.
Apesar dos seus disfarces
sempre a descubro
e a espanto.
Nunca conseguiu enganar-me
nem vencer-me.
Graças a mim, nesta cidade
ainda é possível
a felicidade.
Mas os combates nocturnos
deixam-me exausta e ferida.
E para compensar a minha
guerra contra o inimigo,
peço uns restos
de afecto e de amizade.

Mario Vargas Llosa
inédito
Nova Iorque
novembro de 2001
Prémio Nobel Literatura 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

ensaio para esta imagem: este Blog dá-te asas...

domingo, 10 de outubro de 2010

10 - 10 - 10

"O significado atribuído aos números e, por inerência, também às datas varia consoante as culturas e as religiões. A numerologia explica a importância do número dez pela interpretação dos seus dois elementos. O número 1, entendido como o primeiro dos números, o início, o absoluto. Em algumas interpretações está também associado à energia criativa, à originalidade e ao poder. O zero só é incorporado no sistema numérico europeu durante a Idade Média, com a aceitação dos algarismos arábicos. Para a época foi um passo importante pela dificuldade que existia em imaginar a quantificação do nada. Misticamente, o zero é também referido como o poder divino, mas é sobretudo interpretado pela sua forma - um círculo, símbolo de perfeição." (in Sapo.pt)

Confesso que foi um dia normal, sem sequer me lembrar das baboseiras habituais, com preconceitos e superstições bacocas que os media pretendem fazer passar ou que ridículos personagens se lembram de falar. Um dia único, porém, reconheço, mas sem dramas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

" Recentemente, entre a poeira de algumas campanhas políticas, tomou de novo relevo aquele grosseiro hábito de polemista que consiste em levar a mal a uma criatura que ela mude de partido, uma ou mais vezes, ou que se contradiga, frequentemente. A gente inferior que usa opiniões continua a empregar esse argumento como se ele fosse depreciativo. talvez não seja tarde para estabelecer, sobre tão delicado assunto do trato intelectual, a verdadeira atitude científica.
Se há facto estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural.
A coerência , a convicção, a certeza são, além disso, demonstrações evidentes - quantas vezes escusadas - de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade.
Uma criatura de nervos modernos de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões políticas, predilecções literárias, mas sensações reigiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária.
Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm sobretudo, quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variãrão, como é de entender, consonte esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é republicano de manhã, é monarquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, e católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos de anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo, uma invenção de louco quando, ante uma solidão do mar, ele não souber de mais do que da “Odisseia”.
Convições profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.
Quando é que despertaremos para a justa noção de que a política, a religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética - a estética dos que ainda não a podem ter? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumada às suas sensações a viverem independentemente, se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida."


Fernando Pessoa - in Os Portugueses - A opinião pública(1915)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

caminho no tempo
não sei bem pra onde
as ansiedades
leva-mas o vento
pra lá do horizonte.

domingo, 3 de outubro de 2010

os meus meninos na Caotinha, Benguela, onde a natureza continua maravilhosa.
o bar da praia da Caotinha continua no mesmo sítio, mas ao abandono, uma pena...