domingo, 13 de dezembro de 2009


Porém, alguma moralização chegou com a atribuição do Prémio Pessoa. Nem tudo é mau, no meio desta floresta negra que atravessamos, lá vai surgindo um raio de luz de vez em quando... "O bispo do Porto foi o escolhido para Prémio Pessoa 2009. O júri do galardão destacou que, "em tempos difíceis como os que vivemos actualmente, D. Manuel Clemente é uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo". Mas há mais, de acordo com o texto da acta do júri: "A sua intervenção cívica tem-se destacado por uma postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, do combate à exclusão e da intervenção social da Igreja. (...) Entre as três dezenas de obras que publicou, os últimos títulos, saídos no espaço de um ano, são uma boa síntese das suas preocupações: Portugal e os Portugueses (ed. Assírio & Alvim) recolhe vários ensaios sobre a cultura do país e acerca do fenómeno religioso; 1810 - 1910 - 2010, Datas e Desafios (idem) trata a relação do cristianismo com a política e a laicidade, debate questões como milenarismos e fundamentalismos e o diálogo entre a Igreja e a cultura.
Este tema domina a terceira obra, Um Só Propósito - Homilias e Escritos Pastorais (ed. Pedra Angular), onde o autor também trata questões relacionadas com a intervenção da Igreja na sociedade e com a evangelização. A intervenção social, destacada pelo júri, está também presente nos livros e em várias posições públicas - sobre o emprego, a crise económica ou o papel dos cristãos na solidariedade com os mais pobres."
(...) Na entrevista ao Ípsilon, o bispo do Porto dizia que a desmesura é o factor que nos explica enquanto portugueses: "Um povo que teria um milhão de habitantes no princípio do século XVI, com cem mil homens disponíveis, que vai deste canto da Europa até à quarta parte nova - o Brasil, depois a Ásia -, é uma coisa tão desmesurada que fica sempre o sentimento de que somos gente especial. Por que nos calhou a nós? A argumentação geográfica - estamos numa ponta da Europa - não esvazia o sentimento de que há uma desmesura que nos explica."
in 'Público'

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