quarta-feira, 28 de maio de 2008

Acordo (Ortográfico) sim

Sobre o tão falado Acordo/Desacordo Ortográfico, aqui deixo um excerto do texto que li em renas e veados...Na minha modestíssima opinião, a língua não é património de ninguém, faz parte daqueles que a falam, que se entendem com recurso a ela, e a língua não é algo imutável, está sujeita ao tempo e ao modo como os seus falantes a vão usando e a vão adaptando a novas realidades, ela está em constante evolução...

"De volta ao desacordo

1) Para citar este belíssimo comentário de Rui Zink, deixado numa caixa de comentários tomada de assalto pelo analfabetismo-patrioteiro. Cito com a devida vénia:

«Certo, Angola já não é nossa, mas a língua ainda é. Semos o Pai, nós decidiremos o destino dela. E depois, o Brasil não tem escritores, não tem literatura, enquanto que em cada Portuguez há um Poeta, e um Poeta que nunca deixou a sua língua amada ser contaminada por estrangeirismos foleiros como prime, subprime, franchising, spread 0%, uma língua cujos deputados não dizem atempadamente, cujos economistas não nos convenceram que é errado dizer rentabilidade, cujos cidadãos lêem Camoens no original e onde nem as cartas do CEO da PT vêm com eros ortográficos, porque Eros é um deus brasileiro e lá por eles serem muitos nós semos Portuguezes, temos o copiraict (que escrevemos com c para distinguir de ofsait. Seremos como o Titânico, affundar-nos-emos philosofficamente escrevendo kmo s/pre xkrevemos. Hey men.»
2) Há dias notei com agrado numa notícia de um site brasileiro que por lá se diz "centavo de euro" e não o horroroso "cêntimo". Agora quando a fui procurar para comentar encontrei não uma, mas centenas, incluindo esta da Agência Lusa Brasil:

«Os bares e restaurantes portugueses praticam o preço mais baixo de venda do produto entre os países europeus. Em Portugal, a xícara do expresso custa, em média, 55 centavos de euro (R$ 1,41).»
Quanto tempo será necessário para que o analfabetismo-patrioteiro comece a vomitar que "no Brasil nem sabem dizer cêntimo"? Este exemplo de um melhor uso da língua lá do que cá é especialmente valioso por ilustrar um dos principais factores que contribuiu para a divergência da língua nos dois países: a influência do francês em Portugal. Coisa que começou na altura das invasões, mas que nem por isso indigna estes pseudo-puristas patridiotas. Sobretudo ao nível fonético (que em nada será alterado pelo acordo), com a exagerada consonantização do sotaque das elites lisboetas, assumido como o "mais correcto", é aos franceses que devemos muita da água que separa as duas variantes da língua.

3) Mas não costumam ser os velhos do Restelo a ditar o rumo da história. E talvez essas exacerbadas reacções anti-acordo mais não sejam que o indício disso mesmo, o último estrebuchar do orgulhosamente sós. Assim o espero." ...

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