sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

desejo a todos um Feliz Ano Novo, fintem a crise, dêem-lhe a volta, sempre com um sorriso nos lábios... tchim tchim
deambulando pelas Beiras esquecidas na despedida derradeira de um ente querido - até sempre madrinha - foto flipvinagre

domingo, 26 de dezembro de 2010

pairando à superfície em Cascais - fotografia do telemóvel

ao fim de uma semana finalmente vejo o Sol, cansei-me da chuva, o frio satura-me, dou as boas vindas ao astro-rei em mais um Natal ibérico, dei folga ao sol tropical, uma folga quinzenal, mas sinto saudades do seu toque na pele... volto já, espera aí.

"Não perguntes Leuconoe, - ímpio será sabê-lo –
que fim a nós dois os deuses destinaram,
não consultes sequer os números babilónicos:
Melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê ainda muitos invernos,
Quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondasdo mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e como a vida é breve, encurta a longa espr’ança.
De inveja o tempo voa, enquanto nós falamos:
Colhe os frutos do dia, o dia de hoje,
Que nunca o de amanhã merece confiança."

Horácio, Odes

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Feliz Natal para todos Ho Ho Ho...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

em serviços mínimos...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Benguela - praia da baía azul - foto flipvinagre

murmura-me o vento
palavras dispersas
são vogais vadias
sílabas diversas
junto-as no pensamento
declaro-as perversas
sei-as agora
entretanto
tema de conversas
de sorrisos de encanto
oiço o vento
tanto
tanto...

domingo, 5 de dezembro de 2010

zungueiras em Benguela - foto flipvinagre
tudo é passageiro
a vida de uma gaivota
um aguaceiro
um mar de revolta
um domingo caseiro
uma criança que grita
uma mãe aflita
e no fundo dos dias
a luz que nos conduz
volta sorrateira
não sei se tudo isto
não passa de uma brincadeira

divagando...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

"A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...TUDO BEM! O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos..."

Chico Xavier
domingo caíu aqui uma carga de água como já não me lembrava. Aliás, foi a repetição do que ocorreu na passada quinta-feira. Além da chuva copiosa e forte, com algum vento à mistura, a trovoada abana tudo, o ribombar dos trovões faz estremecer tudo e mais alguma coisa. A cidade de Luanda fica um caos, o trânsito pára, as barrocas largam as areias e a cidade transforma-se num imenso lodaçal. Na periferia fica tudo pior mercê da construção em zonas perigosas, sem regras ou qualquer tipo de condições. Nestes dias de chuva é um ai jesus nosso senhor nos acuda para as gentes dos musseques, que além de ficarem desalojados, perdem os seus haveres. Mas é um ai jesus para todo o mundo pois é um transtorno que toca à porta. Esta cidade está a rebentar, as estruturas são as mesmas de há uns trinta e muitos anos, o excesso de população acelera a sua decadência e a sua inhospitabilidade. E nos dias seguintes, a terra que desceu às ruas e avenidas, agora seca e poeirenta, deixa tudo cheio de pó, uma dor de cabeça para quem anda na rua. Há muita volta a dar nesta cidade, nesta população, mas não se vêem grandes indícios para que as coisas mudem, vigora por cá o lema modorrento do deixa andar, nas calmas... não há-de ser nada! A vida são dois dias...easy...tá bem então.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"Lobitando" - foto flipvinagre


sofro o fio que o
cabelo alinha no chão. a
noite que vem comer a luz
ao dia. minha voz
superior. deus certamente
corrige meus olhos. vejo o
frio, a paralisia do
vento. e preocupo-me
lentamente. um estar vivo
sem qualquer obrigação. vou
dizendo o escuro pormenorizadamente

Valter Hugo Mãe

o Valter é uma inspiração...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

_ O que é escrever? No fundo é estruturar o delírio , e tem graça porque quando se trata o delírio o que aparece sempre é uma depressão subjacente _

_ Um amigo meu , o Daniel Sampaio , talvez o melhor psiquiatra português , costuma dizer que só os psicóticos são criadores. Você fala com um neurótico e são tipos que não são nada , que são chatos , repetitivos.
Os psicóticos são espantosos , dizem frases espantosas , estou a lembrar - me de uma que era ...
" aquele homem tem uma voz de sabonete embrulhado em papel furtacores " _
Isto é uma frase do caraças _


Antonio Lobo Antunes

segunda-feira, 22 de novembro de 2010


deixei o meu pequeno kissange em terras lusas, aqui tive que adquirir outro, é um entretém, uma diversão. chego quase a convencer-me que nasci com um dom para a música, hélas... vou tentando aqui e ali ensaiar qualquer coisinha que não choque os ouvidos, chego a rir-me da minha falta de jeito mas lá consigo tirar uns sonzinhos que vão fazendo sentido, às vezes...um dia hei-de compôr algo de verdadeiramente estonteante, aguardem...

o kissange é um intrumento de som fluido,utilizado em grandes caminhadas como fundo musical, quando um mais velho vai contando histórias à volta da fogueira, ao luar. Sobre a tábua hormónica fixam-se lâminas, que podem ser de bambu ou metal, presas a um cavalete. Agarra-se o instrumento com as duas mãos e toca-se com o polegar de cada uma.

domingo, 21 de novembro de 2010

e eu só gosto de somar dias bons, detesto os dias menos bons, que felizmente são poucos, tenho propensão para as coisas positivas, prefiro ver sempre o lado positivo das coisas, de tudo, afinal, da própria vida... porque sim, porque só assim vamos sorrindo nesta maravilhosa aventura.

domingo, 14 de novembro de 2010

bungalows de praia - Barra do Dande (Angola) - foto flipvinagre


"abro os olhos e desperto o dia. crio
a explosão do sol cheio sobre
mim. arranco-me à terra que
na noite me lançou raízes
e sacudo-me.
separo os braços, abro
o vento com as unhas. imagino
um voo firme. cumpro o
corpo e outras grandes
mentiras"

Valter Hugo Mãe


O poeta valter hugo mãe nasceu em 1971 na cidade angolana de Henrique de Carvalho (actual Saurimo) e hoje vive em Vila do Conde.

Publicou nove livros de poesia, destacando-se "egon schielle auto-retrato de dupla encarnação" (Prémio de Poesia Almeida Garrett), "três minutos antes de a maré encher", "a cobrição das filhas", "útero e o resto da minha alegria".

É autor de várias antologias: "O encantador de palavras", "Poesia de Manoel de Barros", "Série poeta", "Homenagem a Julio-Saúl Dias", "Quem quer casar com a poetisa, poesia de Adília Lopes", entre outros.

sábado, 13 de novembro de 2010

Barra do Dande - Angola - foto flipvinagre
"mãe Luzia" - na Barra do Dande - foto flipvinagre


fim-de-semana prolongado. Basámos até à Barra do Dande, depois do Cacuaco, a uns 30 e picos km de Luanda. Experimentámos o restaurant da mãe Luzia, peixe grelhado com feijão de óleo de palma, mandioca, batata-doce, banana-pão e Cucas....um pitéu de peso!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

decisão tomada: rumarei ao ginásio brevemente. Causa: ligeiro alargamento da cintura. Tsss....
hoje Angola comemora 35 anos de independência. Dia da "Dipanda".
É feriado nacional. É a primeira vez que vivo, in loco, o acontecimento. Há uma série de eventos sobre a data, as tradicionais evocações são hábito anual, é dia de blá blá blá.
Há enormes disparidades sociais, o que equaciona a estabilidade política no futuro. Dir-se-à que ainda é uma república em fase de crescimento, a consolidação da democracia é ainda um programa em curso, mas o facto é que este processo histórico, que não é fácil, concordo, apresenta sinais de distorção que podem suscitar dissabores (só uma mão de ferro vai conseguindo segurar este status quo), espero que isso não aconteça, não quero cá estar outra vez para pagar uma factura pesada, bastam os anos de ausência forçada provocada por imbecis que, alcandorados à sombra da projecção de ideais utópicos, venderam a honra e a dignidade alheia, desrespeitando direitos inalienáveis de quem queria bem a esta terra, a trabalhava e a transformou num território digno de reconhecimento. Esse é o tempo para esquecer (embora com enorme mágoa), importa olhar para para a frente com esperança. Assim seja. Viva Angola e os angolanos. A vitória é certa. Tamos juntos. uauê.
"Mitologias" - estátua na Av. Marginal - Luanda - foto flipvinagre


“Crie seus próprios mitos.

Foi assim que os deuses começaram.”

Stanislaw Lec

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

daí, por vezes, a expressão "este tipo é um artista" :-)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

domingo, 31 de outubro de 2010

imbondeiro - tela de Modesto

"those who find beautiful meanings in beautiful things are the cultivated.
for these there is hope.
they are the elect to whom beautiful things mean only beauty."

oscar wilde, the picture of dorian gray

sábado, 30 de outubro de 2010

céu rosado no regresso a África -foto do telemóvel - flipvinagre


Exultação

Não há maior maravilha do que percorrer
as alturas estreladas, abandonar as lúgubres regiões
.......................................................da terra,
cavalgar as nuvens, subir aos ombros de Atlas,
e ver muito distantes, lá em baixo, as pequenas

......................................................figuras
que vagueiam e erram, desprovidas de razão,
inquietas, no temor da morte, e aconselhá-las,
e fazer do destino um livro aberto.

Ovídio, in Metamorfoses.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

“Se nada fizermos para corrigir o curso das coisas, dentro de alguns anos se dirá que a sociedade portuguesa viveu, entre o final do século XX e começo do século XXI, um luminoso mas breve interregno democrático. Durou menos de 40 anos, entre 1974 e 2010. Nos 48 anos que precederam a revolução de 25 de abril de 1974, viveu sob uma ditadura civil nacionalista, personalizada na figura de Oliveira Salazar. A partir de 2010, entrou num outro período de ditadura civil, desta vez internacionalista e despersonalizada, conduzida por uma entidade abstrata chamada ‘mercados’."

Leia mais da crónica de Boaventura de Sousa Santos na
Visão. Vale a pena.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

na livraria "Bertrand" no Cascais Shopping

domingo, 24 de outubro de 2010

flying again...

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner Andersen

sábado, 23 de outubro de 2010

Pés gelados


- Doutor, eu entro no chuveiro e lá está a calcinha da minha mulher pendurada numa torneira.

- Sim.

- O armário do banheiro está sempre cheio das coisas dela. Potes de creme, sprays, loções, bisnagas... Não tem lugar para as minhas coisas. Já tentei jogar tudo fora, mas não adiantou. No dia seguinte, o armário estava cheio das coisas dela de novo.

- Sim.

- A coberta da cama está sempre presa no lado dela. Não consigo puxar para o meu lado.

- Sim.

- Não posso usar o telefone. Está sempre ocupado.

- Sim.

- E o pior, doutor: os pés gelados dela encostando na minha perna, na cama, quando eu menos espero.

- Sim, sim. Só não entendo porque o senhor está me contando tudo isso. Parece mais assunto para um conselheiro matrimonial, não um psicólogo.

- É que a minha mulher morreu há mais de um ano, doutor!

e ainda outra:

Perdedor, vencedor

O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram para o vestiário, lado a lado. No vestiário, enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:

- Também, com essa raquete...

Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor também sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os ténis. O perdedor comentou, ainda sorrindo:

- Também, com esses ténis...

O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou:

- Também, com esse físico...

O vencedor perdeu a paciência.

- Olha aqui - disse. - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete igual à minha e ténis melhores do que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é o equipamento que ganha o jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor. Prefere atribuir a sua derrota à minha raquete, aos meus ténis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo o que é meu e mudasse de atitude, você também poderia ser um vencedor, apesar dessa barriga.

O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:

- Também, com essa linha de raciocínio..."

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO in "expresso"

Porque às vezes é bom parar e pensar um pouco no que andamos a fazer, veja, clike aqui.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"sem título"
tela do angolano Álvaro Macieira

Chuva

Tenha piedade
De nós
Caía com carinho
Ouça minha voz

Não destrua
O meu bairro de lata
Regue os nossos campos
Mas não mate
A nossa pura verdura

Tenha piedade de nós
Caía com carinho
Ouça a minha voz

Não deixe
A minha rua alagada
Você diz que nos ama
Mas no fundo
Não ama nada

Traga
Mais saúde
Mais Kumbú
Mais amor
Isto é o que queremos.

Sandro Feijó*
(poeta angolano, Abril 2010)


Por aqui começaram as chuvas, quando chove a situação complica-se, mil e uma razões vêm à tona de água para justificar outras mil e tantas coisas...Daí a minha preferência pelo Sol, fica tudo muito mais luminoso.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

POEMA PARA A EXORCISTA

A minha vida aparece sem condão e
monótona
aos que me vêem
no trabalho árduo da oficina
em manhãs apuradas.
A verdade é muito distinta.
Cada noite eu saio e discuto
contra um espírito malévolo
que, se valendo de
máscaras - cão, grilo,
nuvem, chuva, vagabundo,
ladrão - trata de
se infiltrar na cidade
para estragar a vida humana
semeando
a discórdia.
Apesar dos seus disfarces
sempre a descubro
e a espanto.
Nunca conseguiu enganar-me
nem vencer-me.
Graças a mim, nesta cidade
ainda é possível
a felicidade.
Mas os combates nocturnos
deixam-me exausta e ferida.
E para compensar a minha
guerra contra o inimigo,
peço uns restos
de afecto e de amizade.

Mario Vargas Llosa
inédito
Nova Iorque
novembro de 2001
Prémio Nobel Literatura 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

ensaio para esta imagem: este Blog dá-te asas...

domingo, 10 de outubro de 2010

10 - 10 - 10

"O significado atribuído aos números e, por inerência, também às datas varia consoante as culturas e as religiões. A numerologia explica a importância do número dez pela interpretação dos seus dois elementos. O número 1, entendido como o primeiro dos números, o início, o absoluto. Em algumas interpretações está também associado à energia criativa, à originalidade e ao poder. O zero só é incorporado no sistema numérico europeu durante a Idade Média, com a aceitação dos algarismos arábicos. Para a época foi um passo importante pela dificuldade que existia em imaginar a quantificação do nada. Misticamente, o zero é também referido como o poder divino, mas é sobretudo interpretado pela sua forma - um círculo, símbolo de perfeição." (in Sapo.pt)

Confesso que foi um dia normal, sem sequer me lembrar das baboseiras habituais, com preconceitos e superstições bacocas que os media pretendem fazer passar ou que ridículos personagens se lembram de falar. Um dia único, porém, reconheço, mas sem dramas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

" Recentemente, entre a poeira de algumas campanhas políticas, tomou de novo relevo aquele grosseiro hábito de polemista que consiste em levar a mal a uma criatura que ela mude de partido, uma ou mais vezes, ou que se contradiga, frequentemente. A gente inferior que usa opiniões continua a empregar esse argumento como se ele fosse depreciativo. talvez não seja tarde para estabelecer, sobre tão delicado assunto do trato intelectual, a verdadeira atitude científica.
Se há facto estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural.
A coerência , a convicção, a certeza são, além disso, demonstrações evidentes - quantas vezes escusadas - de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade.
Uma criatura de nervos modernos de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões políticas, predilecções literárias, mas sensações reigiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária.
Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm sobretudo, quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variãrão, como é de entender, consonte esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é republicano de manhã, é monarquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, e católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos de anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo, uma invenção de louco quando, ante uma solidão do mar, ele não souber de mais do que da “Odisseia”.
Convições profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.
Quando é que despertaremos para a justa noção de que a política, a religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética - a estética dos que ainda não a podem ter? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumada às suas sensações a viverem independentemente, se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida."


Fernando Pessoa - in Os Portugueses - A opinião pública(1915)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

caminho no tempo
não sei bem pra onde
as ansiedades
leva-mas o vento
pra lá do horizonte.

domingo, 3 de outubro de 2010

os meus meninos na Caotinha, Benguela, onde a natureza continua maravilhosa.
o bar da praia da Caotinha continua no mesmo sítio, mas ao abandono, uma pena...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

e o último que apague a luz...
e alguém ainda tem pachorra??? Nã...
é uma dor de alma, não se vêem melhoras, o país corre para um estado de calamidade económica, social e política, a factura agiganta-se e a população, perplexa, fica ao sabor das correntes de opinião, de infiltrados, de comentadores com discurso encomendado, e o povo, esse, tem já os ouvidos tão cheios de cera que nada escuta, os poucos que ouvem nada fazem, está o país num estado de pré-coma, fortemente adoentado... já não basta o soro, creio ser necessária uma grande operação. Acudam, acudam...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O valioso tempo dos maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

Mário Pinto de Andrade

sábado, 18 de setembro de 2010

por uns das vai ser mesmo assim...