"roboteiros" na Vila do Cacuaco - foto flipvinagre
1
De palavras novas também se faz país
neste país tão feito de poemas
que a produção e tudo a semear
terá de ser cantado noutro ciclo.
2
É fértil este tempo de palavras
em busca do poema
que foge na curva das palavras
usadamente soltas e antigas
distantes das verdades dos rios
do quente necessário das brasas
do latejar silencioso das sementes
dentro da terra
quando chove.
3
Proponho um verso novo
para as laranjas (por exemplo) matinais
e os namorados
com que havemos de encher todos os dias
os mercados.
4
Proponho um verso novo
para as guelra do peixe sem contar
para a abundância da carne
e a liberdade das aves desenhada
no amor das escolas
dos campos
e das fábricas.
5
Proponho um verso novo
para o leite obrigatório em cada dia
e a medalha olímpica
que o riso das crianças já promete.
6
Proponho um verso novo
para o milho a mandioca suculenta
o amadurecido cacho de dendém
alegre na fartura dos dedos
e das bocas.
7
Produzir na palavra
É semear e colher
É cumprir na escrita
A produção.
8
Produzir na palavra
É cantar no poema
Todas as raízes
Deste chão.
Manuel Rui Monteiro (poeta angolano)
In 11 Poemas em Novembro, Luanda, Ed. Lavra e Oficina, 1976
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