sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Este fim-de-semana.....relembrar Schopenhauer com Café del Mar como música de fundo....aconselho





SCHOPENHAUER, ARTHUR - Schopenhauer escreveu os seus aforismos em 1851, dentro da obra intitulada Parerga e paralipomena e mais de trinta anos depois da sua obra máxima, O mundo como vontade e representação, no qual descreve a sua metafísica. Aqui ele usa o aforismo (ou máxima, sentença curta e conceituosa) como forma artístico-filosófica para falar sobre 53 temas diversos (como amizade, simplicidade, felicidade, vida e morte), ensinando-nos a encarar as adversidades com serenidade. Embora considerado um pessimista por afirmar que todo viver é sofrer, Schopenhauer mostra que a filosofia pode ser consoladora.
Em Aforismos para a Sabedoria de Vida, Arthur Schopenhauer destaca três factores que definem o nosso grau de (in)felicidade:
Primeiro, o que somos. Perante o mesmo acontecimento a nossa visão e atitude difere. Por exemplo, se colocarmos dois indivíduos diante duma situação idêntica obteremos duas reacções distintas. De facto, o que somos (saúde, carácter, beleza, inteligência...) determina a nossa representação do mundo e, por conseguinte, o nosso comportamento: “...o que acontece a um homem durante a vida é de menor importância que a maneira como o sente.”
A seguir, o que temos. Basicamente, o que possuímos. Quem souber dar valor àquilo que possui poderá sentir satisfação pelo que tem. Quem, pelo contrário, em vez de valorizar o que tem, apenas cobiça o que não tem, está condenado a uma permanente insatisfação.
Finalmente, o que representamos. A opinião que os outros têm de nós, boa ou má, afecta-nos exageradamente. As considerações que outros tecem em relação ao que somos são uma realidade que apenas diz respeito à consciência de outrém: “...são coisas que, directamente, não existem para nós; tudo isso apenas existe indirectamente, ou seja, na medida em que determina o comportamento dos outros em relação a nós.”
“... regra geral o que somos contribui mais à nossa felicidade que aquilo que temos ou que aquilo que representamos. O mais importante é sempre aquilo que um homem é, por conseguinte, aquilo que possui interiormente; já que a sua individualidade acompanha-o sempre e para todo o lado...”
Schopenhauer atribui superioridade intelectual a todo o homem capaz de fugir do mundo e viver solitário. “No que diz respeito ao homem dotado em permanência de uma individualidade extraordinária, intelectualmente superior, esse então, pode passar sem grande parte dos prazeres que o mundo em geral cobiça; mais ainda, apenas são para ele um incómodo e um fardo.
A Amizade Verdadeira e Genuína
Do mesmo modo que o papel-moeda circula no lugar da prata, também no mundo, no lugar da estima verdadeira e da amizade autêntica, circulam as suas demonstrações exteriores e os seus gestos imitados do modo mais natural possível. Por outro lado, poder-se-ia perguntar se há pessoas que de facto merecem essa estima e essa amizade. Em todo o caso, dou mais valor aos abanos de cauda de um cão leal do que a cem daquelas demonstações e gestos.
A amizade verdadeira e genuína pressupõe uma participação intensa, puramente objectiva e completamente desinteressada no destino alheio; participação que, por sua vez, significa identificarmo-nos de facto com o amigo. Ora, o egoísmo próprio à natureza humana é tão contrário a tal sentimento, que a amizade verdadeira pertence àquelas coisas que não sabemos se são mera fábula ou se de facto existem em algum lugar, como as serpentes marinhas gigantes.
Todavia, há muitas relações entre os homens que, embora se baseiem essencialmente em motivos egoístas e ocultos de diversos tipos, passam a ter um grão daquela amizade verdadeira e genuína, o que as enobrece ao ponto de poderem, com certa razão, ser chamadas de amizade nesse mundo de imperfeições. Elas elevam-se muito acima dos vínculos ordinários, cuja natureza é tal, que não trocaríamos mais nenhuma palavra com a maioria dos nossos bons conhecidos, se ouvíssemos como falam de nós na nossa ausência.

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

Arthur Schopenhauer (1788-1860)

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