terça-feira, 11 de novembro de 2008
Ser poeta é ser mais alto, maior do que os homens, dizia Florbela Espanca. Acho que também cabe na definição o poeta ser mais pequeno, como uma criança, cheia de sensibilidade e inocência, mas que compreende e lê as emoções, tem o dom de as perceber e saber exprimi-las, com clareza e profundidade, expelindo o sentimento de si para fora de si.
É neste contexto que leio este poema do Eugénio de Andrade:
Há dias
Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo
quero eu dizer :
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.
Eugénio de Andrade
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