segunda-feira, 9 de junho de 2008
Hoje, no "DN"
"Paquistão. Oito anos de conflito por causa de um burro e um cão
Governo paquistanês promete prender todos os responsáveis pela decisão
Há oito anos um cão raivoso dos qalandari mordeu num burro dos chakrani e este acabou por morrer. Foi o suficiente para que os dois clãs rivais da província paquistanesa do Baluschistão iniciassem uma guerra que viria a fazer 13 vítimas. O fim do conflito só aconteceu este ano, quando um conselho de notáveis, a jirga, decidiu aplicar a mais ancestral das sentenças no Paquistão: oferecer 15 raparigas, virgens, com idades entre os três e os dez anos, para casarem com homens bastantes mais velhos, alguns com mais de 50 anos.
Os dois clãs, da tribo bugti, uma das 130 que existem no Baluchistão, conforme lembrou o El País, começaram a discutir, em 2002, uma solução para a guerra que os opunha. Isto porque viam necessária uma estratégia comum nas negociações com o novo Governo paquistanês. Nesse ano, Nawab Akbar Jan Bugti decidiu castigos a aplicar aos dois clãs: os qalandari, donos do cão raivoso, teriam de pagar 12 mil euros de multa; os chakrani, donos do burro, teriam de pagar 40 mil euros e entregar uma rapariga por mês para casar.
Estes últimos não aceitaram o acordo, mas com a morte de Nawab, assassinado pelos serviços secretos paquistaneses em 2006, a tribo, que conta com 200 mil pessoas, ficou em sérias dificuldades, numa província onde vários grupos armados enfrentam o Exército paquistanês. Foi então que a jirga se reuniu e optou por selar a reconciliação entre os dois clãs com a oferta das virgens. O acordo foi denunciado em Maio pelo jornal paquistanês Dawn e provocou a ira nos sectores mais progressistas do Paquistão.
"Não vamos permitir que as raparigas sejam trocadas assim. Quem fez isto vai ser preso. As ordens já foram dadas. Há uma disfunção em todo o sistema. Eles não estão a ouvir o Governo. É preciso ser mais efectivo e menos retórico", disse o ministro da Informação paquistanês, Sherry Rehman, saído do partido de Benazir Bhutto.
O vanni, explica o Guardian, é um costume ancestral segundo o qual os clãs resolvem as suas diferenças trocando mulheres para casar, é ilegal no Paquistão. O tribunal de Sindh, fronteira com o Baluschistão, proibiu há quatro anos esta forma de fazer "justiça paralela". Mas nas áreas rurais a influência do Governo é quase nula e a polícia tem por hábito fechar os olhos a tais práticas.
Após ser conhecida a decisão daquela jirga a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão pediu não só a anulação da sua sentença como a detenção de todos quantos concordaram com a troca das raparigas pela paz entre os clãs. Entregues pelas próprias famílias, na maioria dos casos em zonas rurais, muitas destas raparigas são transformadas em escravas pelos maridos, sofrendo por vezes agressões e violações."
A evolução tem destas coisas...os da carruagem da frente surpreendem-se com o que vai lá para as últimas cabines...O séc.XXI lado a lado com a idade das trevas.
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