segunda-feira, 8 de junho de 2009



" Forças
Luís Fernando Veríssimo
"Deus, me dê forças!"

Era a frase que toda a vizinhança ouvia, mais de uma vez por dia, vinda do apartamento do quarto andar onde moravam a dona Ritinha e seu marido Manuel, chamado por todos de Manuelão.

"Deus, me dê forças!"

A vizinhança entendia a dona Ritinha. Ela era uma santa pessoa, educadíssima. Professora de piano. Louca pelo Debussy. Uma mulher pequena de aspecto frágil. E a convivência com o Manuelão certamente não ajudava sua saúde. A vizinhança só podia imaginar o que o Manuelão, que tinha o dobro do tamanho da mulher, aprontava para provocar aquelas súplicas repetidas.

"Deus, me dê forças!"

Dona Ritinha precisava mesmo de forças para aguentar o Manuelão. O que ninguém entendia era porque aquele casamento se dera. Não poderiam haver duas pessoas mais diferentes do que a frágil e sensível dona Ritinha e seu gordo e lamentável marido. Nada combinava menos com Debussy do que o Manuelão. Mas o casamento continuava. Era, pensavam todos, para que o casamento continuasse que dona Ritinha pedia a Deus que lhe desse forças. Uma santa pessoa, diziam.

Mas um dia aconteceu o seguinte: o Manuelão foi jogado do apartamento do quarto andar. Voou pela janela.

Deus tinha atendido ao pedido da dona Ritinha!"

2 comentários:

Luísa A. disse...

Estas historiazinhas do Luís Fernando Veríssimo são muito giras. Adoro o humor. Gosto quase tanto da escrita do filho como da do pai. (O quase, Flip, é a ressalva que ponho apenas porque não conheço a obra do filho como conheço a do pai. Já li alguns contos e crónicas do Luís Veríssimo, mas nunca li os romances, que só sei que tem escritos por consulta à Wikipédia). :-)

Flip disse...

Luísa
concordo, são de um humor que também me agrada, um pouco parvo, subtil, jocoso, tenho dois ou três livros dele e são realmente óptimos...do pai conheço porventura menos que a Luísa, hei-de ler mais
:-)
mas dispõem bem e são leitura obrigatória