quinta-feira, 29 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
a remodelação de espaços/monumentos/edifícios antigos é tarefa fascinante, adaptá-lo aos tempos que correm e emprestar-lhe a devida utilidade mantendo a sua característica é também algo que irradia carácter e valor. Eis uma Igreja Dominicana, em Maastricht, convertida em loja de livros, da autoria de Merlx+Girod Architects. Digno de registo.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Logo-logo, as irmãs notaram o olhar toldado do pai. Rosaldo não tirava atenção do intruso. Não, ele não levaria as suas meninas! Onde quer que o jovem vagueasse, o velho pai se aduncava, em pouso rapineiro. Até que, certa noite, Rosaldo seguiu o moço até à frondosa figueira. Seu passo firme fez estremecer as donzelas: não havia sombra na dúvida, o pai decidira por cobro à aparição. Cortar o mal e a raiz.
As três irmãs correram, furtivas, entre as penumbras e seguiram a cena a visível distância. E viram e ouviram. Rosaldo se achegando ao visitante e lhe apertando os engasganetes. A voz rouca, afogada no borbulhar do sangue:
- Você, não se meta com minhas filhas!
O moço, encachoado, rosto a meia haste. E ante o terror das filhas, o braço ríspido de Rosaldo puxou o corpo do jovem. Mas eis que o mundo desaba em visão. E os dois homens se beijaram, terna e eternamente. Estrelas e espantos brilharam nos olhos das três irmãs, nas mãos que se apertaram em secreta congeminação de vingança.
Há muitos sóis. Dias é que só há um. Para Rosaldo e o visitante, esse foi o dia. O derradeiro.”
Mia Couto in “O Fio das Missangas – As três irmãs”
hoje deixo aqui um grande abraço à "Vitória", ela anda a portar-se bem, vejo garra, dinâmica, vontade, disciplina, o SLB está no bom caminho, oxalá a corrupção dos senhores que têm desvirtuado a verdade no desporto-rei continue amordaçada pelo brilhantismo da realidade ofuscante deste Glorioso SLB. Mais uma vitória daquelas, até alguns jornalistas já dizem "Já começa a faltar palavras para qualificar este Benfica 2009-10 de uma forma original, tantas são as exibições contundentes que obrigam ao mesmo discurso laudatório, jornada após jornada." Que o gás não se acabe, "Vitória" em frente! amen.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Gostei de ler a opinião de Vasco Pulido Valente, hoje, no "Público":
"Uma farsa
Por Vasco Pulido Valente
O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices.
Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.
Oregime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória."
E ponto final.
"Uma farsa
Por Vasco Pulido Valente
O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices.
Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.
Oregime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória."
E ponto final.
domingo, 25 de outubro de 2009
"Pelo caminho, ao atravessarmos não sei que praça, chegaram-nos ao ouvido os sons de um violino de cego, estropiando uma linda ária. E Ricardo comentou:
- Ouve esta música? É a expressão da minha vida: uma partitura admirável, estragada por um horrível, por um infame executante..."
Mário de Sá-Carneiro in "A Confissão de Lúcio"
Gostei também da recente entrevista na RTP1 a António Lobo Antunes, o grande autor foi até fazendo poesia, como o episódio da gravata, revelando através de metáforas a sua percepção sensível da vida, numa sala de espera num hospital público, televisões ligadas para quem ninguém olhava, revistas sobre a mesa que ninguém lia, cada pessoa fechada na sua bolha de solidão, e ele a observar um senhor já de muita idade, muito magro pela doença, um camponês, mas como ia ao hospital trazia o melhor fato, que era sempre o mesmo, já manchado, tinha o colarinho abotoado, não tinha gravata, mas quando o chamavam ele avançava como um príncipe, e naquele colarinho abotoado havia a gravata mais bonita que ele viu na sua vida. Eis a profunda dignidade que ele vê nas pessoas.
E outras pérolas houve: "A arte talvez seja a forma suprema de dignificação do homem".
António Lobo Antunes anunciou a intenção de “continuar a viver com a orgulhosa humildade” com que sempre tem vivido e concluíu com uma frase de Newton: “Não sei o que o futuro pensará de mim. Sempre me imaginei uma criança a brincar na praia, que às vezes encontra um seixo mais polido, uma conchinha mais bonita, enquanto o grande oceano da verdade permanece intacto à minha frente”.
Sobre as afirmações de Saramago relativamente a Deus e à Bíblia: "O que eu senti, dos poucos ecos que me chegaram, foi medo. Medo por mim. Medo de chegar à idade dele com tão pouco sentido crítico."
Entrevista aqui.
na "Visão" - entrevista de Sara Belo Luís
8 de Outubro de 2009
(...)Foi votar nas últimas legislativas?
Isso é uma pergunta íntima.
Pode não querer responder, mas de íntimo a pergunta não tem nada.
Não, não fui votar. Não vejo diferença entre os partidos, vejo apenas duas frentes eleitorais, o PS e o PSD, sem qualquer ideologia. O único partido que tem um corpo ideológico coerente é o PCP, mas para mim é surpreendente que continue a haver pessoas que votem naquilo. Claro que houve excepções como De Gaulle e Churchill, mas já reparou na falta de sentido de humor dos políticos? Ora aí está: se tivéssemos uma arte boa, nenhum desses partidos existiria. Porque não respondem às nossas necessidades profundas, às nossas convicções, à nossa necessidade de felicidade. Se todos lessem A Odisseia e Dom Quixote provavelmente o mundo não seria o mesmo.
Mas a arte tem esse poder?
Se lhe derem espaço e se não a tentarem estrangular, tem. Depois do 25 de Abril, o que é que se fez pela cultura do nosso país? A cultura continua a ser uma qualquer coisa de marginal, para muito poucos. Para as massas, existem os best-sellers e as telenovelas. Porque, como já disse, a cultura é profundamente subversiva. A Igreja proibia os livros porque punham em questão um sistema, defendiam teses completamente inconcebíveis como o facto de a Terra andar à volta do Sol. E é tremendo, mas ainda hoje continuamos a acreditar que é o Sol que anda à volta da Terra. Ao introduzir o princípio da incerteza na física, Heisenberg foi recebido com imensa relutância."
sábado, 24 de outubro de 2009
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Vou falar-vos do desenho e creio poder dizer-vos alguma coisa de novo sobre a mais antiga das expressões . Nenhuma outra forma de pensamento chegou até nós mais próximo do seu aspecto primitivo do que o desenho. Todas as origens se dispersaram pelas infinitas direcções do tempo e da geografia , mas as rochas conservam os traços que nem o tempo desfez nem a geografia mudará jamais .
Tem o desenho um sentido universal que o distingue de qualquer outra expressão universal do homem .
Se fosse possível reunir os desenhos de crianças de todo o mundo e desconhecendo as respectivas nacionalidades , ninguém saberia , através desses desenhos , indicar a pátria do seu autor .
As crianças de todo o mundo são iguais na espontaneidade dos traços instintivos do homem .
São iguais até que o instinto deixa de ser a única força que as conduz.
/
O desenho não é simplesmente um cojunto de linhas ou traços.
O desenho é o nosso entendimento a fixar o instante .
/
Por isso o desenho é o melhor amigo do entendimento .
É corrente , quando alguém não percebe o que se diz , acrescentar ... Precisas que te faça um desenho ?!
Almada Negreiros
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
"Como é difícil entendermo-nos com a vida. Nós a compor, ela a estragar. Nós a propor, ela a destruir. O ideal seria então não tentarmos entender-nos com ela mas apenas conosco. Simplesmente o nós com que nos entendêssemos depende infinitamente do que a vida faz dele. Assim jamais o poderemos evitar. E todavia, alguns dir-se-ia conseguirem-no. Que força de si mesmos ou importância de si mesmos eles inventam em si para a sobreporem ao mais? Jamais o conseguirei. O que há de grande em mim equilibra-se nas infinitas complacências da vida que me ameaça ou me trai. E é nesses pequenos intervalos que vou erguendo o que sou. Mas fatigada decerto de ser complacente, à medida que a paciência se lhe esgota em ser intervalarmente tolerante, ela vai-me sendo intolerante sem intervalo nenhum. E então não há coragem que chegue e toda a virtude se me esgota na resignação. É triste para quem sonhou estar um pouco acima dela. Mas o simples dizê-lo é já ser mais do que ela. A resignação total é a que vai dar ao silêncio."
Vergílio Ferreira in 'Conta-Corrente 4'
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um [elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é [elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
Carinhos? Afectos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
Álvaro de Campos. Fernando Pessoa
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Gosto de ler Saramago, já li várias obras deste autor.
Agora lançou mais um livro (“Caim”) e o assunto versado mais não é do que uma nova investida contra a igreja e a religião (como se se esperasse o contrário de um ateu e comunista confesso!!!).
O lançamento do livro deu origem a polémica, proporcionando um óptimo golpe publicitário, sem dúvida, nada como provocar celeuma e até alimentá-la para tirar dividendos da situação.
Creio que Saramago ainda quer facturar umas notas (materialista como é...), só assim se explica ter-se lembrado do Caim a uma hora destas. Sensacionalismo, eis o ingrediente certo para o efeito.
Pilar del Rio, esposa do escritor, em declarações à TSF, disse que "Caim" é um livro «para pessoas que usam a razão na altura de abordar a vida» e foi escrito com carácter de urgência e que é um dos melhores livros de Saramago, adiantando que deverá ser outro livro polémico. «A grande literatura é sempre provocatória», sendo que «haverá pessoas que se poderão dar por ofendidas», avisou.
Tudo montado, portanto, para criar curiosidade e transformar o livro em objecto de procura.
Li o polémico “Evangelho segundo Jesus Cristo” e concluí que se trata de uma interpretação individual de Saramago, desconheço se tem ou não seguidores essa sua interpretação. E o mesmo se passa com “Caim”, uma obra pré-polémica que merece uma leitura com a distância devida e um juízo equidistante. Até porque se torna interessante observar a exegese restrita e viciada à partida de um ateu sobre factos bíblicos, algo que deixa logo de pé atrás qualquer leitor.
Não há nada como ler para aferir dos pensamentos dos outros, bons, maus, assim assim, ou nem por isso. A isto se chama soberania individual, livre e isenta de contendas susceptíveis de influência.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente. Mas recua duzentos anos e verás que nada disto tem já significado.
Vergílio Ferreira in 'Escrever'
O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação. Este fogo do conhecimento, que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E não há outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto uma singularidade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta mais facilmente nas diferenças do que nas semelhanças, esquecendo-se, e é Goethe quem o lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade, ele nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem sequer são capazes de imaginar. Palavra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema harmonia entre luz e sombra, presença e ausência, plenitude e carência.
Eugénio de Andrade in 'Rosto Precário'
sábado, 17 de outubro de 2009
“Ao longe explodiu um polvorim, uma espécie de cogumelo de fogo que iluminou as nuvens cizentas que se abatiam sobre Sbodonovo, e o estampido chegou um pouco mais tarde, amortecido pela distância. Uma coisa tipo tuum-pumba surdo que fez estremecer as plumas nos chapéus dos marechais, generais e ajudantes-de-campo em redor do Anão. O marechal Lafleur, que nesse momento olhava pelo óculo, garantiu que no topo do cogumelo se viam figurinhas humanas, mas Lafleur tinha fama de exagerado, de modo que ninguém fez caso. De qualquer forma, a pancada tinha sido tremenda.
- São russos ou dos nossos? – indagou o Ilustre, interessado.
- Russos, sire – esclareceu alguém.
- Nesse caso que se lixem. “
Arturo Perez-Réverte in “A Sombra da Águia” (ao mesmo tempo divertido e trágico, A Sombra da Águia revela-nos uma visão mordaz e descarnada da guerra e da condição humana. Uma pequena pérola com a assinatura do mais importante escritor espanhol da actualidade – que se recomenda).
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
janela de um Outono soalheiro - foto flipvinagre
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão Ferreira
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
sábado (03/10), a conhecida ONG Greenpeace e um dos fotógrafos mais polêmicos da actualidade, Spencer Tunick, movimentaram na região de Borgonha (França) mais de 500 pessoas, que, nuas, se reuniram num vinhedo para alertar o mundo sobre os efeitos das mudanças clímáticas.
Os voluntários criaram uma "escultura viva que ilustra a vulnerabilidade do homem e de sua cultura perante as mudanças climáticas", afirma a organização ambientalista, em comunicado.
Esperemos uma maior consciencialização e responsabilidade individual e colectiva.
Havana, 14 Out (Lusa) - A bloguer Yoana Sánchez, pela quarta vez impedida de sair de Cuba para receber um prémio internacional, escreveu hoje uma mensagem quase cifrada afirmando estar num mundo virtual a milhares de quilómetros dos "uniformizados" que a impedem de viajar.
"Máquinas de bypass que se desligam, choros de bebé que ecoam. Carimbos que caem sobre as folhas para negar e censurar; kilobytes que levam a minha voz pela Internet sem que tenha de deslocar-me. Alguém que me observa carrancudo enquanto fala pelo 'walkie-talkie' de controlo", é assim que começa a mensagem.
"Um pássaro chamado Twitter eleva-me nas suas patas. Escritórios com gente uniformizada que confirma 'você não pode viajar por agora', se bem que já estou a milhares de quilómetros daqui, nesse mundo virtual que eles não podem compreender nem cercar", termina o lacónico comentário colocado do blogue "Generación Y" ("Geração Y").
A entrada, intitulada "Lecciones de Biología (Lições de Biologia)", está acompanhada de uma foto de Yoana Sánchez nos escritórios governamentais de Havana, onde lhe foi negada, pela quarta vez, autorização para viajar para receber um prémio internacional.
A galardoada planeava deslocar-se aos Estados Unidos para receber, hoje, uma menção especial do Prémio María Moors Cabot, da Universidade de Columbia, mas uma funcionária informou-a de que não tinha permissão para sair da ilha, contou à agência EFE o marido de Yoana, Reinaldo Escobar.
A bloguer, de 34 anos, mostrou no departamento governamental fotocópias das anteriores recusas e o convite da Escola da Jornalismo da Universidade de Columbia, bem como outra que recebeu do Senado do Brasil para que ali faça uma palestra e apresente um livro. Além de um visto para viajar para os Estados Unidos, Yoana Sánchez tem outros da Polónia e de Espanha e um convite do México para ir receber o Prémio "Caminhos da Liberdade".
Os escritos de Yoana Sánchez no blogue "Generación Y" têm sido uma referência fora da ilha sobre a actualidade cubana e tornaram-na merecedora de outros galardões, como a distinção espanhola Ortega y Gasset de 2008, que também não pôde levantar por lhe ter sido interdita a viagem para fora de Cuba.
Enfim, uma ditadura obsoleta que reprime e vai castrando a liberdade individual, em pleno séc. XXI - aqui se dá publicidade que o assunto merece, LIBERDADE para Yoana, já.
ho ho hoje esti estive co com um ami amigo mê meu que que é ga gago. Pa para abre abreviar, ele ele está bé bem e ia ia apre apressado, só só me fez adê adeus. Pen penso que me me an anda a evi evitar, mas não não sei por porquê. Se será que é é por por eu o aju ajudar a acabar as frá frases?
Gosto imenso dele, é inteligente e brincalhão e adora quando gaguejo com ele.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
nestes dias tem tido alguma relevância, um video (de 2007, ao que dizem) de uma actriz de telenovelas (maité proença) sobre o nosso país, as nossas tradições e cultura.
Recebi por email o video feito por essa personagem (aqui).
Conclusão: um episódio triste, de uma pessoa triste (o sentido do termo equivale aqui a pobre ou mesmo a indigente cultural), sem noção da cultura do nosso povo e da nossa história, das nossas tradições, e, mais grave, sem respeito por quem a admira (ou admirava, depois disto os fãs de novelas ficaram decepcionados, claro...) e que nem sequer mediu as consequências do seu acto (xenófobas, económicas, sociais, culturais...)
Reacção pronta e adequada ao triste episódio, teve Nuno Markl - «É o mais espectacular auto-retrato de uma imbecil que já vi na vida».
Acrescentaria, apenas, que desconhecia (porque não vejo novelas) que existissem actrizes assim tão culturalmente paupérrimas, ignorantes, mal educadas e preconceituosas.
Um episódio triste, para esquecer.
Não obstante, recomendaria à actriz de novelas, que nos meios audio-visuais, manda o bom senso que haja contenção, prudência, respeito e urbanidade, requisitos mínimos para o estabelecimento de um clima de credibilidade. As desculpas chegaram mas, sem qualquer efeito, o dano é irreversível. E mais não digo, já dei relevância em excesso a este triste episódio, mas a minha costela de Viriato não sossegava.
Basta!
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