domingo, 25 de outubro de 2009
Gostei também da recente entrevista na RTP1 a António Lobo Antunes, o grande autor foi até fazendo poesia, como o episódio da gravata, revelando através de metáforas a sua percepção sensível da vida, numa sala de espera num hospital público, televisões ligadas para quem ninguém olhava, revistas sobre a mesa que ninguém lia, cada pessoa fechada na sua bolha de solidão, e ele a observar um senhor já de muita idade, muito magro pela doença, um camponês, mas como ia ao hospital trazia o melhor fato, que era sempre o mesmo, já manchado, tinha o colarinho abotoado, não tinha gravata, mas quando o chamavam ele avançava como um príncipe, e naquele colarinho abotoado havia a gravata mais bonita que ele viu na sua vida. Eis a profunda dignidade que ele vê nas pessoas.
E outras pérolas houve: "A arte talvez seja a forma suprema de dignificação do homem".
António Lobo Antunes anunciou a intenção de “continuar a viver com a orgulhosa humildade” com que sempre tem vivido e concluíu com uma frase de Newton: “Não sei o que o futuro pensará de mim. Sempre me imaginei uma criança a brincar na praia, que às vezes encontra um seixo mais polido, uma conchinha mais bonita, enquanto o grande oceano da verdade permanece intacto à minha frente”.
Sobre as afirmações de Saramago relativamente a Deus e à Bíblia: "O que eu senti, dos poucos ecos que me chegaram, foi medo. Medo por mim. Medo de chegar à idade dele com tão pouco sentido crítico."
Entrevista aqui.
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3 comentários:
;) + :)
Não sei por que não consigo gostar do Lobo Antunes entrevistado, Flip. Tudo me parecem frases feitas, silêncios estudados e pensamentos preparados para a ocasião. Tudo muito postiço. Nesse aspecto, prefiro o estilo «terra-a-terra», francamente mais natural e espontâneo, do Saramago.
P.S.: Mas não vi esta entrevista de que fala. Será diferente?
Luísa
gosto dele assim como é, ele vive mais além e comporta-se como tal...veja e tenha em conta que se trata de alguém com um carisma especial :-)
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