sábado, 7 de junho de 2008
Inspirado pelas múltiplas faces e facetas de Fernando Pessoa, o cartoonista uruguaio Hermenegildo Sábat construíu uma série de desenhos do poeta, que aqui se apresenta. Ilustrado com passagens do Livro do Desassossego, Anónimo Transparente — Uma interpretação gráfica de Fernando Pessoa é apresentado pelo escritor português premiado com o Nobel da Literatura em 1998, José Saramago.
«Que retrato de si mesmo pintaria Fernando Pessoa, se, em vez de poeta, tivesse sido pintor, e de retratos? Colocado de frente para o espelho, ou de meio perfil, obliquando o olhar a três quartos, como quem, de si mesmo escondido, se espreita, que rosto escolheria e por quanto tempo? O seu, diferente segundo as idades, assemelhado a cada uma das fotografias que dele conhecemos, ou também o das imagens não fixadas, sucessivas entre o nascimento e a morte, todas as tardes, noites e manhãs, começando no Largo de S. Carlos e acabando no Hospital de S. Luís? O de um Álvaro de Campos, engenheiro naval formado em Glasgow? O de Alberto Caeiro, sem profissão nem educação, morto de tuberculose na flor da idade? O de Ricardo Reis, médico expatriado de quem se perdeu o rasto, apesar de algumas notícias recentes, obviamente apócrifas? O de Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na baixa lisboeta? Ou um outro qualquer, o Guedes, o Mora, aqueles tantas vezes invocados, inúmeros, certos, prováveis e possíveis? Representar-se-ia de chapéu na cabeça? De perna traçada? De cigarro apertado entre os dedos? De óculos? De gabardina vestida ou sobre os ombros? [...] Ou, ao contrário destas eloquências, ficaria sentado diante do cavalete, da tela branca, incapaz de levantar um braço para atacá-la ou dela se defender, à espera de um outro pintor que ali fosse tentar o impossível retrato? De quem? De qual?» José Saramago (excerto)
Sobre o autor:
Nascido no Uruguai, Hermenegildo Sábat vive e trabalha na Argentina, sendo um dos mais prestigiados cartonistas da imprensa sul-americana. Publicou o seu primeiro desenho em 1945, colaborando desde 1949 com títulos da grande imprensa. Tem trabalhos publicados em quase todos os países das três Américas e da Europa. Ameaçado e perseguido pela ditadura militar argentina, viria a ser distinguido pela Universidade de Columbia (Nova Iorque), exactamente pelo trabalho que produziu e pelos desenhos que publicou durante os anos da ditadura.
Publicou 25 livros e expôs em vários países desenho e pintura.Merece atenção.
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