domingo, 25 de outubro de 2009


na "Visão" - entrevista de Sara Belo Luís
8 de Outubro de 2009

(...)Foi votar nas últimas legislativas?
Isso é uma pergunta íntima.

Pode não querer responder, mas de íntimo a pergunta não tem nada.
Não, não fui votar. Não vejo diferença entre os partidos, vejo apenas duas frentes eleitorais, o PS e o PSD, sem qualquer ideologia. O único partido que tem um corpo ideológico coerente é o PCP, mas para mim é surpreendente que continue a haver pessoas que votem naquilo. Claro que houve excepções como De Gaulle e Churchill, mas já reparou na falta de sentido de humor dos políticos? Ora aí está: se tivéssemos uma arte boa, nenhum desses partidos existiria. Porque não respondem às nossas necessidades profundas, às nossas convicções, à nossa necessidade de felicidade. Se todos lessem A Odisseia e Dom Quixote provavelmente o mundo não seria o mesmo.

Mas a arte tem esse poder?
Se lhe derem espaço e se não a tentarem estrangular, tem. Depois do 25 de Abril, o que é que se fez pela cultura do nosso país? A cultura continua a ser uma qualquer coisa de marginal, para muito poucos. Para as massas, existem os best-sellers e as telenovelas. Porque, como já disse, a cultura é profundamente subversiva. A Igreja proibia os livros porque punham em questão um sistema, defendiam teses completamente inconcebíveis como o facto de a Terra andar à volta do Sol. E é tremendo, mas ainda hoje continuamos a acreditar que é o Sol que anda à volta da Terra. Ao introduzir o princípio da incerteza na física, Heisenberg foi recebido com imensa relutância."

2 comentários:

Gi disse...

Compraste o Público de 6ª feira passada? Na Ípsilon traz uma bela entrevista com o ALA.

Esta, da visão, também a li.

Flip disse...

Gi
sim, li, gostei, claro!:-)