Na "VISÂO" mais este artigo que ajuda a compreender a "crise":
"O fim do capitalismo?
Um grupo de empresários economistas, gestores e investidores contou à VISÃO o que pensa sobre o presente e o futuro do modelo económico ocidental
PERGUNTAS:
1 – O modelo capitalista, como o conhecemos, está esgotado?
2 – Qual deve ser a prioridade de mudança? Mais regulação?
3 – Há alternativa crítica ao sistema capitalista? Qual?
AS RESPOSTAS DE:
Belmiro de Azevedo
Empresário, fundador do Grupo Sonae
1 - Não está. Tem que ser, pode ser melhorado. Mas as alternativas conhecidas poderão ser interessantes em cenários retrógrados.
2 - Terá que haver mais regulação para suprir insuficiências de mercado. Mas a concorrência a nível global tem-se revelado capaz de fazer intervenções por administração de fármacos ou cirurgia – Como no momento actual.
3- Há semelhante. Melhor capitalismo, menor despotismo, maior coesão social, menos intervencionismo eleitoralista
Pedro Arroja
Economista, professor universitário e investidor no mercado de alto risco
1 - O que vai sair daqui em termos financeiros vai ser completamente diferente. Esta é uma fase histórica. Os grandes desaparecerão todos. Estão a morrer instituições históricas e os bancos de investimento como negócio autónomo.
2- Não se consegue prever o que aí vem. Vai haver mais prudência. Haverá alterações profundas do sistema bancário e financeiro e uma maior concentração da banca. A regulação e a supervisão (onde é que estavam?) terão de ser mais firmes.
3 - Procurar uma solução de equilíbrio: dar liberdade aos bancos na criação de produtos, mas estabelecer limites. Mas continuo muito pessimista.
Tanya Vianna de Araújo
Economista, professora no ISEG, especialista em Mercados Financeiros
1- Capitalismos há muitos. No actual, o mercado financeiro tem papel fundamental. A análise de base experimental contraria a ideia de eficiência do mercado, evidenciando fortes correlações entre as dinâmicas dos preços das acções das companhias americanas.
2- Sim, mais regulação, pois as crises vêm reforçar as correlações entre dinâmicas de preços e, não havendo regulação, as crises funcionam como um veículo de recondução a uma estrutura cada vez menos eficiente.
3- As alternativas passam por uma melhor compreensão das estruturas criadas pelo comportamento dos agentes do mercado. A nossa análise mede a evolução destas estruturas. No caso americano, as alterações são impressionantes desde 2000-2001.
Sandro Ferreira Mendonça
Economista, docente no ISCTE e na Universidade de Sussex (Reino Unido)
1- O sistema económico vai mudando e passando por ciclos. Mas esta não é uma convulsão vulgar. Os jogos financeiros não podem ter este protagonismo
2- Cortar com a causa profunda deste desastre: o «fundamentalismo de ercado» (expressão de George Soros). É urgente restaurar o bom senso e edificar uma estrutura de transparência (obrigação de revelar as contas) e controlo (taxação da especulação).
3- Sim. Não podemos estar condenados a uma sociedade onde tantos são prejudicados
por tão poucos e onde a desigualdade social é a base do sistema (por fim os pobres
começaram a não pagar as suas prestações e o resultado está à vista).
João Duque
Professor de Finanças no ISEG
1- Todos os dias os sistemas dinâmicos mudam e se ajustam. A economia de mercado está a passar uma fase mais visível de ajustamento e alteração. Observaremos mudanças mas das crise poderá sair um sistema mais fiável e menos vulnerável.
2- Apenas alterações regulamentares não serão suficientes para repor os níveis de confiança. Há espaço para alterar a dinâmica organizativa e funcional dos mercados
monetários por forma a trazer-lhes mais calma e tranquilidade.
3- O capitalismo baseado nas leis de mercado, bem regulado ainda tem muito para dar, e o espaço europeu com a sua variante mais humanista pode bem ser um sistema que garante o bem-estar de uma maioria muito significativa da população.
João César das Neves
Economista. professor na Universidade Católica
1- Claro que não. Quando nos dói a cabeça não deixamos de ser pessoas para passar a cães.
2- Não precisa de haver mudanças drásticas. Isto é uma crise financeira normal, embora
mais forte. Como no caso dos tufões na costa americana, a ventania aguenta-se e depois a vida continua.
3- Não. A força principal do capitalismo é precisamente a de integrar as críticas e ajustar-se para melhorar."
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