terça-feira, 21 de outubro de 2008
trecho do livro "As mulheres do meu pai" de José Eduardo Agualusa:
"Passo as noites na carrinha. Não tanto para poupar dinheiro, mas simplesmente porque me desagrada a ideia de pagar, por pouco que seja, pelo duvidoso prazer de me estirar numa cama pública a fingir que durmo. Incomoda-me ainda mais a possibilidade de efectivamente cair no sono, e sonhar os restos dos sonhos que alguém deixou para trás. Os colchões das camas de hotéis, sobretudo de hotéis baratos, acumulam no geral resíduos de sonhos rápidos, mal sonhados, não sendo de excluir a possibilidade de se contrair um ou outro pesadelo tresmalhado. Conhecem promiscuidade maior do que sonhar um sonho em segunda mão?"
Adorei este trecho e a causa e consequência de dormir (no caso) num hotel barato. Realmente, sonhar um sonho usado é desagradável, tão ou tanto como permanecer num hotel barato.
Saudades, entre outros, do "meu" Thistle Westminster Hotel/London, onde sonhava com os passeios no "Thames" com a filha mais bela da rainha, mesmo ali ao lado, no Buckingham Palace :)
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4 comentários:
Agualusa é fantástico Caro Flip. Um dos meu favoritos desde o tempo em que escrevia histórias na revista Pais&Filhos.
e confesso ter de fazer um esforço para mencionar algo pior que sonhar o que não é meu :)
:)
tb aprecio imenso Agualusa e este trecho faz muito sentido
e não faça esforços once :)
Nos hotéis ditos baratos, Flip, não havia, há coisa de um século, oportunidade para sonhos em segunda mão, mas para combates enérgicos com exércitos de pulgas e percevejos. Receio que seja essa memória, que recebi de alguns livros de viagens, que me afasta de semelhantes hotéis. ;-)
Cara Luísa,
...que de hotéis só possuem a designação :)
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