terça-feira, 7 de julho de 2009



Por vezes acalentamos esperanças sobre factos que desejamos que aconteçam e, em simultâneo, tememos a sua não realização. Voam em paralelo, lado a lado e só se acabam por desfazer quando e se um deles se concretiza. Mas isso pode ser evitado, se se viver sempre no presente. Compatível com a natureza humana? Não sei...

"Diz ele: «deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança».
Perguntarás tu como é possível conciliar duas coisas tão diversas. Mas é assim mesmo, amigo Lucílio: embora pareçam dissociadas, elas estão interligadas. Assim como uma mesma cadeia acorrenta o guarda e o prisioneiro, assim aquelas, embora parecendo dissemelhantes, caminham lado a lado: à esperança segue-se sempre o medo. Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro.
A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. As feras fogem aos perigos que vêem mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reactualiza a tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente ninguém pode ser infeliz!"

Séneca in 'Cartas a Lucílio'

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