quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Por vezes existe nas pessoas ou nas coisas um charme invisível, uma graça natural que não pôde ser definida, a que somos obrigados a chamar o «não sei o quê». Parece-me que é um efeito que deriva principalmente da surpresa. Sensibiliza-nos o facto de uma pessoa nos agradar mais do que deveria inicialmente e somos agradavelmente surpreendidos porque superou os defeitos que os nossos olhos nos mostravam e que o coração já não acredita. Esta é a razão porque as mulheres feias possuem muitas vezes encantos que raramente as mulheres belas possuem, porque uma bela pessoa geralmente faz o contrário daquilo que esperávamos; começa a parecer-nos menos estimável. Depois de nos ter surpreendido positivamente, surpreende-nos negativamente; mas a boa impressão é antiga e a do mal, recente: assim, as pessoas belas raramente despertam grandes paixões, quase sempre restringidas às que possuem encantos, ou seja, dons que não esperaríamos de modo nenhum e que não tinhamos motivos para esperar.
Os encantos encontram-se muito mais no espírito do que no rosto, porque um belo rosto mostra-se logo e não esconde quase nada, mas o espírito apenas se mostra gradualmente, quando quer e do modo que quer; pode esconder-se para surgir de novo e proporcionar essa espécie de surpresa que constitui os encantos.
Baron de Montesquieu, in "Ensaio Sobre o Gosto"
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8 comentários:
Sem dúvida, Flip: o que é muito bonito por fora, já pouco mais terá a conquistar ou ganhar e o trajecto subsequente é, quase invariavelmente, descendente. Já o que é feio por fora tem, à sua frente, um mundo de oportunidades de conquista, e, sabendo lutar, só tem a subir. ;-)
Luísa,
e assim o feio se torna surpresa, agradável, transformando-se e ganhando outro tipo de beleza
:-)
Só Vinicius de Moraes certamente discordaria de Montesquieu...
Dulce,
Vinicius possuía uma outra apreensão do Belo, muito própria, que também não nego mas a beleza interior também conta não é? :-)
Não há beleza exterior que resista ao efeito mata-borrão da feiura e pobreza interior!
Dulce,
a pessoa se auto-contagia
:-)
É de Bussunda do Casseta e Planeta, a sacada mais genial que conheço a respeito da beleza interior.
JeJé, manda o link pra eu ver sff, obg
:-)
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