domingo, 29 de novembro de 2009

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"

4 comentários:

Dulce Braga disse...

Adorei ! Obrigada, assim nem precisei pesquisar.:)

Flip disse...

Dulce,
ainda bem que gostaste :-)

uminuto disse...

palavras de ternura em tempestade de um magnífico poeta
um beijo

mfc disse...

Simplesmente o meu Poeta...