quinta-feira, 2 de julho de 2009


Téa Leoni (sempre maravilhosa)

"Conhecemo-nos na rua. Foi a única que conheci assim. Deixou cair um aquário e eu tentei salvar o peixe. Enfiei-o numa garrafa e ele morreu. Prometi-lhe: «Vais ver - vai ficar como novo.» Ela acreditou. Desiludi-a pela primeira vez. Ela era tão bonita que me senti um assassino. Pedi-lhe o número de telefone. Ela não mo deu. Podia ter-me dado um número qualquer - sempre seria um esforço - mas limitou-se a dizer «Não!». Era a palavra favorita. Estava sempre a dizer que não. A mim irritava-me imenso, sendo eu uma pessoa pouco cumpridora, mais virada para o sim. Depois conheci o pai dela. Vendeu-me uma enciclopédia náutica. Naquele tempo eu comprava tudo o que os pais das minhas namoradas vendiam. Móveis, gravuras. Tinha uma casa horrível. Estilo rococó. A filha do homem que ma vendeu recusou-se sempre a ir comigo para a cama em casa dela. «É a cama do meu pai», dizia a anormal e lá tinha de me vestir outra vez e levá-la para um hotel ainda mais piroso que a minha casa, o predilecto dela, caríssimo. Apaixonei-me num momento desprevenido. Estava a ver um jogo de futebol, ela meteu-se à frente do televisor e, em vez de lhe dar um grito, não reparei, pela minha saúde, fiquei ali especado a olhar para ela. Um minuto de exposição foi quanto bastou. Não se pode olhar muito tempo para raparigas bonitas sem este género de merdas acontecer."

Miguel Esteves Cardoso in "O amor é fodido", 2000

2 comentários:

Luísa A. disse...

Não sei por que me enerva sempre um bocadinho este gozo, muito masculino, numa paixão irremediável por uma mulher que se descreve como essencialmente estúpida, Flip. Penso que me irrita um pouco aquilo, que esse gozo pressupõe, de orgulho no instinto animal, viril, irreprimível perante um corpo feminino e de condescendência para com a inerente estupidez. Não é a isto que se chama machismo? ;-D

Flip disse...

Luísa
machismo típco, o MEC 'apanha' aqui e bem a atitude típica machista, o gajo que domina a cena e as miúdas e tal (este é também o tipo de linguagem desse tipo de personagens, meio marialva). Ao reler estes episódios, hoje, vejo que teve lugar, entretanto (e felizmente) uma mudança de mentalidades, este 'tipo' está hoje em desuso, decadência, quase extinção, pelo que se trata (para mim) de um episódio caricato do passado, fiel aos tempos de então...não se amofine pois Luísa ;-)