sábado, 15 de agosto de 2009
“O belo disco de luz alaranjada ia-se erguendo e nós ficámos a olhar para o Sol e para os raios que ele ia pondo na encosta da serra. Ficámos quietos e silenciosos como numa missa e aquele ritual diário, mas que a gente raras vezes tinha ocasião de ver, transmitia-nos uma grande serenidade e uma imensa emoção. Senti a mão dela a apertar mais a minha. Ela disse:
- O mundo é tão bonito!
Eu comentei:
- O que faz isto bonito está dentro de nós. Muita gente fica indiferente a este Sol a nascer e quem tem ódio no coração fica lá com o ódio.
A Catarina estava com um brilho no olhar e parecia querer aspirar com as narinas tudo o que se estava a passar. Deixou cair uma frase como se fosse uma resposta ao que eu lhe tinha dito:
Talvez fosse possível ensinar as pessoas a ver nascer o Sol...
Eu perguntei:
- E a ti, quem te ensinou?
- Tudo me ensinou: o meu pai, a minha mãe, o mundo em que eu nasci...Tudo mais ou menos me preparou para coisas destas. Viver é capaz de ser uma educação de sentimentos.
- Sim. É capaz de ser, só que nós temos uma imensa capacidade de sermos infiéis às coisas para que fomos feitos.”
António Alçada Baptista in “Catarina ou o sabor da maçã”
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2 comentários:
Estava a ler, Flip, e a lembrar-me de que só raras vezes contemplei o nascer do Sol. Uma… talvez duas. Mas em ambas tive, mais do que uma sensação de paz, uma de regeneração, como se também eu estivesse a nascer de novo. :-)
cara Luísa
é espectáculo que já vi várias vezes uns anos mais para trás, bem como o pôr-do-sol, e estou como a Luísa, somos inundados de uma paz, tranquilidade e admiração quase transcendental, é a aproximação ou a constatação do maravilhoso, do belo, e isso faz-nos tão bem!
:-)
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