terça-feira, 16 de dezembro de 2008


Entrou na sala de audiências. Possuía as características próprias do delinquente vulgar: magro, o rosto cavado e sumido, cabelo com muito gel, brinco numa orelha, um blusão já cossado, preto, escorregava-lhe pelos ombros, descaídos.
Veio pela mão do guarda prisional e sentou-se naquela cadeirinha dos arguidos.
Mal o Meretíssimo entrou, ele levantou-se ao comando do carcereiro e olhou o juiz como uma fera acossada, o seu olhar era receoso e cauteloso, a sua figura balançava parecia ao sabor do vento, meio jingão.
Às perguntas que o MMO. juiz lhe fazia, ele respondia por monossílabos, a voz grossa e monocórdica, o aceno de cabeça, o sim seco, o encolher de ombros.
No lugar destinado ao público, uma mulher parecia prestar uma atenção especial, era a namorada, roía as unhas, estava nervosa.
Nome da sua mãe? Não se lembra. Data de nascimento? Não sabe bem, dez, doze de Junho. O que é que faz? Não responde, tem os olhos no chão, num buraco que escavou no mesmo, tem vergonha do que não quer dizer. Era toxicodependente, já lá vão bastantes anos, mas diz-se recuperado, até já trabalha quando surge oportunidade para tal. E faz o quê? É a minha namorada que me procura empregos nos jornais, eu respondo aos anúncios, às vezes aceitam-me e outras não.
O juiz quis ouvir a namorada, ela senta-se no banco das testemunhas a pedido do MMO e ele é autorizado a sentar-se, parece um pouco aliviado.
Ela sabe tudo a respeito dele, os delitos cometidos, as condenações pela prática dos mesmos, as penas suspensas e as penas cumpridas. Quando tem dúvidas, pede licença e consulta uma pasta de papéis que tem sobre as pernas. Confirma que ele deixou a má vida, largou a droga e já não assalta ninguém, que quando não trabalha fica sossegado lá em casa.
O juiz vai um pouco mais além na sua função de julgar, ultrapassa o que lhe é exigido, e vendo-a tão colaborante, pergunta-lhe que satisfaça a sua curiosidade, porquê que ela, que lhe parece uma cidadã respeitadora, sã, com a cabeça bem assente no lugar, está com um indivíduo daqueles?!
Ela, cabisbaixa, procurando a resposta nos desenhos do vermelho da tijoleira, pensativa por momentos, responde, com o maior enlevo e ternura, é que ele é boa pessoa senhor doutor juiz…fez muitos disparates mas tem um bom fundo. É boa pessoa.
Ele endireitou-se na cadeira, puxou os ombros para cima, orgulhoso, sabia que podia contar com ela, a única pessoa que lhe inspirava confiança e querer no futuro!

4 comentários:

fugidia disse...

Hã... as testemunhas não podem estar na sala de audiências antes de serem ouvidas: ficam na sala de testemunhas à espera... (risos)
:-)

Flip disse...

fugiiiii...
que atenta!!! Muito bem....mas, foi um sessão especial, e já foi retirada de lá :-))) gostei dessa intervenção clap clap clap

fugidia disse...

(vénia)
:-D

Flip disse...

fugi
:-) gostei mesmo, o que me leva, graças a si, a cuidar ainda mais dos "posts" - nem mais uma distracção ;-)