segunda-feira, 22 de dezembro de 2008


Gostei imenso deste último livro de Saramago, A viagem do elefante. Nesta obra, Saramago recorre à ironia e ao sarcasmo, parece falar alto consigo próprio e com o leitor, e faz transparecer, também, a compaixão, solidária, para com as fraquezas do ser humano.
“Ainda a última ressonância do alerta vibrava no ar e já os soldados acorriam às ameias para ver o tal inimigo, que, a esta distância, uns quatro ou cinco quilómetros, não passava de uma mancha quase negra... Um soldado desfez a dúvida, Não admira, têm o sol pelas costas, o que, reconheçamo-lo, é muito mais bonito, muito mais literário, que dizer, Estão em contraluz. Os cavalos, todos zainos e alazões com a pelagem em diversos tons de castanho, daí a mancha escura que formavam, avançavam a trote curto. Poderiam mesmo vir a passo que a diferernça não se notaria, mas isso faria com que se perdesse o efeito psicológico de um avanço que pretende apresentar-se como imparável, mas que, ao mesmo tempo, sabe gerir os meios de que dispõe. É evidente que um bom galope de espadas ao alto, género carga da brigada ligeira, proporcionaria à galeria efeitos especiais muito mais espectaculares, mas, para uma vitória tão fácil como esta promete vir a ser, seria absurdo cansar os cavalos mais além do estritamente necessário. ...”

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