terça-feira, 30 de dezembro de 2008


Tudo começou com um pequeno abraço, tímido, a pequena trepadeira alargava os seus tentáculos, ia pé ante pé, dir-se-ia que olhava de soslaio a reacção daquele tronco enorme, que tanto a atraía e, aos poucos, foi avançando, prolongando-se por ele acima. Era um tronco robusto e o sonho dela era rodeá-lo, ser íntima dele, estar tão próximo dele que seria a sua própria sombra. Faziam um par perfeito, exótico até. Ele não se importava que ela o rodeasse e ela adorava ir crescendo à volta dele. Com o tempo, porém, a relação deteriorou-se, ela apertava-o demais, estrangulava-o, ele mal respirava. De companheiro e amigo, apoiante incondicional, ele passou a prisioneiro, a servo. Ela, aquela trepadeira tímida ao início, uma mera planta rasteira, tornou-se na causa do colapso daquele caule forte e robusto, outrora solitário. Enfraquecido pela assassina, o vegetal vigoroso transformou-se com o tempo numa estaca inerte.

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