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Por isso, os maiores escritores, nas horas em que não estão em comunicação directa com o pensamento, entretêm-se na companhia dos livros. E não terá sido sobretudo para eles, aliás, que foram escritos; não lhes desvendam eles inumeráveis belezas, que permanecem escondidas aos olhos do homem vulgar? Bem vistas as coisas, o facto de os espíritos superiores serem aquilo a que chamamos livrescos não prova de modo algum que isso não seja um defeito do ser. Do facto de os homens medíocres serem muitas vezes trabalhadores e de os inteligentes muitas vezes preguiçosos, não se pode concluir que o trabalho não seja para o espírito uma disciplina melhor do que a preguiça. Porém, encontrar num grande homem um dos nossos defeitos leva-nos sempre a interrogar-nos se no fundo não seria uma qualidade desconhecida (…).
Marcel Proust in O Prazer da Leitura(Título original: Journées de Lecture - Trad. Magda Bigotte de Figueiredo)
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