segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


" - Mas Dona Odete – começou o Padre como se esta fosse a primeira vez que a ouvia falar de tal assunto -, o seu filho leva uma vida assim tão só?
- É como lhe digo Padre. Não sai daquele maldito farol nem para ir ao circo. Vive lá trancado sem que o trabalho lhe ocupe o tempo todo. E o pior, senhor Padre – continuou, é que não parece nada insatisfeito...
(...)
Apertaram demorosamente as mãos e despediram-se com um olhar. Mortinho estava satisfeito por se ter feito compreender. O Padre estava encantado por ter encontrado toda aquela beleza. Naquele mesmo instante, deitou abaixo toda a sua futura preguiça e amaldiçoou sem grande convicção os dias em que não pensou vir ao farol. Olhando todo aquele Mar, prometendo-se que voltaria ali mais vezes, o Padre olhou também o faroleiro. Num tom simples e amistoso, disse:
- É um lugar mágico, Mortinho!
Encostando as costas, o rabo e a nuca ao seu farol, Adelaide Mortinho, o faroleiro, falou com a voz sólida uma verdade que parecia saber desde o dia do seu nascimento:
- Nunca duvidei disso, Padre!”

(Ondjaki in Momentos de Aqui)

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