quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
“A partir de certa altura vivi na Embaixada Portuguesa, num dos apartamentos destinados ao pessoal da mesma (...) mandei fazer mobílias de boa madeira (...) fiquei com o apartamento bem simpático, o único senão era ser mesmo metido no «galinheiro» daquelas zongoleiras maldizentes (...) ia comprando obras de bons pintores angolanos (...) as quais angolanavam as paredes da sala, do corredor e dos dois quartos (...) Era uma casa muito africana, ao meu gosto, e que tinha ao serviço uma empregada doméstica angolana que sendo mãe de 5 filhos, esposa dedicada e já avó, era, sobretudo, um encanto de delicadeza e humanidade, a Idalina. (...) fora contratada por mim e entrara ao serviço, tendo, nessa ocasião de travar conhecimento e relações comerciais com as empregadas do galinheiro, a Tónia, a Luzia e a mais competente de todas, a Ana (...)
Certo dia me encontrava imprevistamente em casa, quando sinto abrir a porta e vejo entrar Idalina, seguida de Ana.
- Descurpa, dótor, viémos aqui buscar óleo de cozinha para o armoço do Senhor Conselheiro, explicou Idalina.
- Bom dia, dótor, se envergonhou a Ana, atrasada na porta.
- Olá Ana, pode entrar, vá lá buscar o que precisa.
Vi nos seus olhos, junto de uma timidez respeitosa, uma necessidade imperiosa de homenagear os meus objectos decorativos africanos que lhe agradavam e então disse, com o maior recato e uma indisfarçável vergonha:
- Aiué, o dótor tem tantos bons gostos!
Vêm-me, hoje, as lágrimas aos olhos, quando penso nestas pessoas que tive a oportunidade e o privilégio de conhecer, onde vamos mais poder encontrar gente tão educada e boa?”
Luís Mascarenhas Gaivão (Estórias de Angola)
É verdade, aquela gente é mesmo assim, simples, educada e boa, e eu tenho também muitas saudades, porque traduzem a humildade e a pureza de um comportamento desinteresado e amigo. Abraço ao povo angolano.
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