Hoje, no Público:
"Para lá da crise, sobre a qual repetiu os lugares-comuns da praxe, de que ninguém discorda e toda a gente aplaude, Cavaco, por uma vez, disse o essencial: "Portugal gasta em cada ano muito mais do que aquilo que produz." Por outras palavras, os portugueses vivem acima dos seus meios, com o que pedem emprestado lá fora. E, quando se fala aqui dos "portugueses", de quem se fala não é de um grupo irresponsável de "especuladores", que a esquerda resolveu diabolizar, mas do Estado, das câmaras, das famílias. Não admira que a dívida externa esteja "em crescimento explosivo" e o crédito a chegar ao fim. Pior ainda: como qualquer pródigo, Portugal delapidou uma grande parte do dinheiro que foi arranjando por aqui e por ali em consumo, corrupção e fantasias sem sombra de "racionalidade" económica. Agora, tem de pagar a conta. Infelizmente, não ocorreu ao dr. Cavaco explicar que este problema não nasceu anteontem. Desde o "25 de Abril", não houve governo, incluindo os dele, que não desse a sua simpática contribuição para a desgraça actual (embora o de Guterres sem dúvida se distinguisse). E mesmo o país não se pode queixar de que não o preveniram. Muita gente o avisou de que não iria suportar um Estado com 700.000 funcionários, um serviço de saúde inteiramente gratuito, um sistema de educação de massa ou uma segurança social sem um fundamente financeiro sólido. Muita gente o avisou de que a "política do betão" era sumptuária e estéril; para já não insistir em "obras de prestígio" como o CCB, a Expo-98 ou a loucura sem desculpa do Euro de futebol. O país não ouviu; e o suborno eleitoral continuou imperturbável".
Vasco Pulido Valente
in "Público", 03.01.2009
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