quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Porque gosto imenso deste jovem autor, eis que o reproduzo:
"Caro leitor, não o conheço, mas quero contar-lhe uma história que me contaram.É uma coisa curta e muito simples, não demora nada. É a história de um homem chamado Gelsomino, que tinha oitenta e poucos anos e vivia numa casa nas montanhas. Um dia Gelsomino estava sentado na mesa da cozinha a tentar escrever um poema sobre os sinais dos céus. Já há muito que se interessava por nuvens e outros fenómenos celestes e tinha uma grande colecção de apontamentos sobre o assunto. O poema que resultaria desse trabalho seria certamente longo, denso e sábio, como o seu autor. Talvez um grande volume de capa preta, talvez até mais do que um. Gelsomino ainda não tinha começado propriamente a escrever, queria que as palavras lhe saissem bem ponderadas, com o peso natural das coisas naturais e definitivas, mas os termos " formas pensantes", " negrumes que brilham" e " simples esplendor" espreitavam-lhe já no fundo da cabeça. No momento solene em que se preparava para escrever o primeiro verso na folha, Gelsomino ouviu um ruído e levantou-se. Abriu a porta lentamente. Lá fora um cão preto com um pequeno pássaro na boca olhava-o sem surpresa. Um cão preto, normal, que ele nunca tinha visto por aqueles lados. O homem não disse nada. O cão baixou o focinho e pousou o pássaro morto no degrau da entrada. Depois deu meia volta e foi-se embora pelo caminho de terra sem se virar para trás. Gelsomino ficou parado a olhá-lo até ele desaparecer. Agora sabia que já não podia escrever belas frases sobre nuvens e coisas no céu. Fechou a porta. De pé na sala vazia, pensava como poderia organizar o seu conto sobre o homem e o cão. "
Jacinto Lucas Pires ( Texto constante do livro: Cartas a Deus "
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2 comentários:
Boa Filipe. O Jacinto já deixou de ser uma promessa há muito tempo. É um dos melhores da nova geração. É o que eu acho...
estou a gostar de o ler Mé
;-)
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