quinta-feira, 30 de abril de 2009


imagem de guitarrista na Rua do Ouro, Lisboa


Toda a poesia, e a canção é uma poesia ajudada, reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre, e a canção dos povos alegres é triste. O Fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter forças para o desejar. As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe. O fado é o cansaço de alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e que também o abandonou. No fado os Deuses regressam, legítimos e longínquos.»

Fernando Pessoa, in «Notícias Ilustrado», 14.04.1929

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