sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


Há já algum tempo que não deixo o carro na estação. Quando o fazia, um arrumador apontava-me sempre um lugar no parque para deixar o automóvel e, em troca pela gentileza (deixem-me dizer assim, não custa nada) dava-lhe um euro, para ele era uma boa receita e como troco do meu gesto, ele desejava-me sempre um bom dia, eu sorria e ele também. Na véspera de Natal, fui mais generoso, atribuí-lhe a verba de dois euros e meio (quase parece o subsídio de Natal e foi mesmo) e ele, como sempre, voltou a desejar-me um bom dia e um feliz Natal, que retribuí, sorrindo. Após as festas, perguntei-lhe pelo Natal dele, que tinha sido bonzinho, disse-me, e estendi-lhe aquela moeda habitual, mas ele, sorrindo e gingando um pouco o corpo afastou-me suavemente a mão e disse, olhe, hoje o senhor não paga, vá descansado. Eu sorri, compreendi aquele gesto dele, na sua modéstia e nos parcos meios de que dispõe, é a sua forma de retribuir. Tinha isto guardado para me lembrar daquele rapaz e de quão grato é por vezes darmos um pouco de atenção ao nosso semelhante, que, por razões diversas (será outro capítulo...) escolhe uma maneira diferente de sobreviver. Mas faz-me aflição ver esta rapaziada por estes caminhos ínvios, autênticos becos (sabemos nós, eles também mas... parece não terem força bastante para sair de lá, infelizmente).

2 comentários:

Luísa A. disse...

Nalguns casos – a idade é mais limitativa no mercado de trabalho do que possa pensar-se - pode já não haver grandes alternativas, Flip. Embora me irritem esses arrumadores, acho graça a uns quantos, em que detecto a preocupação de mostrar brio, profissionalismo, seriedade. E acho bem. :-)

Flip disse...

Luísa
vejo estes "seres" com alguma condescendência e é a sua triste sina que mais me dá dó e daí a minha tolerância...sim, como a Luísa diz, acho que essa atitude deles revela alguma intenção válida de se tornarem úteis(pela competência), enfim...é só sermos simpáticos que eles retribuem, não custa nada (a vida deles já é tão mazinha...)