terça-feira, 10 de fevereiro de 2009


Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo que bebi.
Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com excepção de um copo, que virei.
Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com excepção de um copo, que empinei.
Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
Apanhei a quinta rolha na pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa por excepção.
Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com excepção da rolha.
Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por excepção.
Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau génio que tem.
Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove.
Para me certificar de que não havia engano, contei tudo outra vez e quando terminei já encontrei um total de noventa e três, o que dá certo, quando as coisas andam de perna para o ar.
Como a casa nesse momento passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para controlar minhas contas e recontei todas as casas, copos, rolhas, pias e garrafas, menos aquelas duas, que escondi no banheiro e que eu acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca...

Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé. Máximas e Mínimas do Barão de Itararé.

1 comentário:

Maria Eduarda disse...

Podias escolher um tamhao de letra acima? É que os meus olhos já não chegam a tanto...