terça-feira, 17 de fevereiro de 2009


A Sopa e as Nuvens
(Charles Baudelaire)

A LOUCA da minha bem-amada me dava de jantar, e pela janela aberta da sala de refeições eu contemplava as movediças arquitecturas que Deus faz com as nuvens, as maravilhosas construções do impalpável.

E dizia comigo, através da minha contemplação:

– “Todas estas fantasmagorias são quase tão belas quanto os olhos de minha amada, a pequena louca monstruosa de olhos verdes”.

De súbito senti um violento murro nas costas e ouvi uma voz rouca e encantadora, uma voz histérica, e como enrouquecida pela aguardente, a voz da minha querida bem-amada, que me dizia:

– Trate de tomar a sua sopa, seu maluco, mercador de nuvens!

BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa.

3 comentários:

Luísa A. disse...

Gosto muito, Flip. Embora, curiosamente, sinta que há uma ligeira nota de ternura que se perdeu com a tradução. :-)

Flip disse...

Luísa
:-)

Maria Eduarda disse...

Estou de acordo Luisa.